Yamandú Orsi, o professor de história herdeiro à esquerda de José Mujica eleito presidente do Uruguai

“É isso que sei fazer: ouvir muito, decidir e trabalhar duro por um Uruguai melhor”, disse Yamandú Orsi em seu primeiro discurso como presidente eleito.

Conta a BBC que Yamandú Orsi viveu quando pequeno numa casa humilde sem luz, com banheiro de estilo turco numa área tão rural do Uruguai que, quando uma ambulância lá chegou, ele se escondeu porque nunca tinha visto uma.

Sua única irmã, quase sete anos mais velha, lembra que o procurou até encontrá-lo.
“Ele estava entre o guarda-roupa e a cama, agachado, com os olhos esbugalhados de medo”,
disse Luján Orsi à BBC Mundo.

A ambulância não vinha por ele, mas por seu pai, imobilizado por uma hérnia de disco que sofria em consequência do trabalho de sulfatação de vinhas para vender uvas a uma vinícola.

Orsi obteve 49,8% dos votos e triunfou na segunda volta contra o partido governista Álvaro Delgado como candidato da coalizão de oposição de esquerda Frente Amplio e líder do ex-presidente José “Pepe” Mujica (2010- 2015) numa curta vitoria pois Orsi venceu com un poco mais de 90.000 votos face ao  candidato del do governo , Álvaro Delgado.

O sucesso político deste professor de história de 57 anos se deve a tudo o que aconteceu depois do aparecimento daquela estranha ambulância.

Ele tem uma voz profunda e o sotaque característico de seu departamento natal, Canelones, onde as palavras costumam ser silenciosas e as pessoas são tratadas com tú em vez do você ou vo usado em Montevidéu.

Por influência da mãe, costureira, comungou e tornou-se coroinha. Mas afastou-se da religião quando entrou na política e hoje se define como agnóstico.
Iniciou sua militância na Frente Ampla em um comitê de Canelones e, em 1990, integrou o grupo que Mujica criou com outros ex-guerrilheiros
Tupamaro dentro daquela coligacao de partidos de esquerda: o Movimento de Participação Popular (MPP).

No ano seguinte, formou-se professor de história e lecionou em escolas públicas do interior do país, indo de uma para outra em transporte público e retornando ao armazém no final do dia.

Embora tenha se dedicado à docência quase por acaso - também se matriculou para estudar relações internacionais, mas desistiu depois de um mês -, desenvolveu sua vocação para essa profissão enquanto lecionava.

Alguns ex-alunos lembram-se dele com carinho.
“Fora do âmbito da sua disciplina, ele estava sempre disponível para tudo o que precisávamos”, diz Karen Horminoguez, que teve Orsi como professor numa escola secundária em Santa Lucía, uma cidade com menos de 20 mil habitantes. “Ele vinha com chapéu e garrafa no ônibus todos os dias”, lembra esta mulher de 47 anos que veio cumprimentá-lo em um evento de campanha recente.

Por outro lado, outros ex-alunos têm dificuldade em lembrar disso.