Vinicius, imortal poeta e diplomata, encontrava-se em Paris. Em meio à sua solidão parisiense, ele escreveu a Tom Jobim, seu companheiro de música e amigo inseparável. As suas palavras, impregnadas de saudade, capturam a essência de uma amizade que resistiu ao tempo e à distância. Vinicius estava num hotel com sacada sobre uma praça, uma visão que ele descreveu como "toda solidão do mundo". E foi nesse cenário que ele começou a sua carta:
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“Caro Tonzinho, estou em Paris, num hotel com sacada sobre uma praça, que dá para toda solidão do mundo e diz:
Procura-se um amigo. Não precisa ser homem, basta ser humano, ter sentimento, ter coração. Precisa saber falar e saber calar no momento certo. Sobretudo, saber ouvir.
Deve gostar de poesia, da madrugada, de pássaros, do sol, da lua, do canto dos ventos e do murmúrio das brisas. Deve sentir amor, um grande amor por alguém, ou sentir falta de não tê-lo. Deve amar o próximo e respeitar a dor alheia. Deve guardar segredo sem sacrifício.
Não precisa ser puro, nem totalmente impuro, porém, não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e sentir medo de perdê-lo. Se não for assim, deve perceber o grande vazio que isso deixa. Precisa ter qualidades humanas. Sua principal meta deve ser a de ser amigo. Deve sentir piedade pelas pessoas tristes e compreender a solidão.
Que ele goste de crianças e lastime as que não puderam nascer e as que não puderam viver. Que goste dos mesmos gostos. Que se emocione quando chamado de amigo. Que saiba conversar sobre coisas simples e de recordações da infância.
Precisa-se de um amigo para se contar o que se viu de belo e triste durante o dia; das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças d’água, de beira de estrada, do cheiro da chuva e de se deitar no capim orvalhado.
Precisa-se de um amigo que diga que a vida vale a pena, não porque é bela, mas porque já se tem um amigo. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo. Deve ser Don Quixote sem contudo desprezar Sancho.
Precisa-se de um amigo para se ter consciência de que ainda se vive.”
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"Caro Tonzinho", ele começa, em um tom familiar e afetuoso. Ele prossegue descrevendo o que seria o amigo ideal, numa busca que transcende o simples convívio. Para Vinicius, não era necessário que o amigo fosse apenas um homem, mas sim um ser humano pleno, com sentimento e coração.
Ele procurava alguém que soubesse falar e calar no momento certo, que soubesse ouvir. Esse ideal de amigo não precisava ser perfeito, apenas genuíno e sensível.
A descrição de Vinicius revela um homem que valorizava a profundidade da alma humana. Ele queria um amigo que gostasse de poesia, da madrugada, dos pássaros, do sol e da lua. Um amigo que sentisse amor e saudade, que amasse o próximo e respeitasse a dor alheia.
Para Vinicius, a pureza absoluta não era necessária, mas a vulgaridade era imperdoável. Ele buscava qualidades humanas que fizessem a vida valer a pena.
A amizade, para Vinicius, era algo que ia além de companheirismo. Era uma meta em si mesma, um ideal a ser preservado. Ele queria alguém que pudesse compartilhar tanto as alegrias quanto as tristezas, os sonhos e a realidade. Um amigo que encontrasse beleza nas pequenas coisas, como ruas desertas, poças d'água e o cheiro da chuva. E, acima de tudo, um amigo que fizesse a vida valer a pena, simplesmente pela sua presença.
A carta de Vinicius a Tom é um testemunho poderoso de uma amizade que sobreviveu à distância e ao tempo. É uma ode à humanidade, à busca por conexão verdadeira e à celebração do simples ato de ser amigo.
Nas palavras de Vinicius, ecoa a certeza de que a vida tem mais sentido quando se tem um amigo, alguém que entende e compartilha os mesmos valores e sentimentos.
Assim, as palavras de Vinicius continuam a inspirar, lembrando-nos da importância da amizade verdadeira e da necessidade de valorizar aqueles que caminham ao nosso lado, seja nas ruas desertas ou nas avenidas movimentadas da vida. Afinal, como Vinicius bem sabia, a vida é mais bela quando compartilhada com um amigo.