“O mundo compreende a dimensão desta tragédia e a urgência de agir. As indicações que recebemos são encorajadoras, mas o desafio é monumental”, afirmou Cilliers, durante a conferência de imprensa.
De acordo com o relatório conjunto do PNUD, Banco Mundial e União Europeia, o valor estimado para reconstruir Gaza aumentou de 53 para 70 biliões de dólares, refletindo a ampliação dos danos e das necessidades após dois anos de conflito.
A guerra entre Israel e o Hamas deixou um rasto de devastação sem precedentes: cerca de 67.800 mortos e mais de 55 milhões de toneladas de escombros, segundo as autoridades de saúde de Gaza e os dados do PNUD.
Imagens de satélite analisadas pelas Nações Unidas mostram que 83% das edificações em Gaza City foram destruídas ou gravemente danificadas. A paisagem urbana transformou-se num cenário de ruínas, onde milhares de famílias regressam agora às suas casas reduzidas a entulho.
O PNUD compara o volume de destruição a “13 pirâmides de Gizé” ou a uma camada de 12 metros de detritos cobrindo todo o Central Park, em Nova Iorque — uma imagem simbólica da escala do desafio que a comunidade internacional enfrenta.
Apesar do otimismo cauteloso das Nações Unidas, não há compromissos financeiros formalizados. O PNUD e o Banco Mundial esperam arrecadar pelo menos 20 biliões de dólares nos primeiros três anos, o suficiente para restaurar infraestruturas críticas, como água, energia e habitação básica.
O presidente turco Recep Tayyip Erdoğan afirmou que pretende coordenar esforços com os países do Golfo, os EUA e a União Europeia para acelerar a mobilização de fundos. No entanto, especialistas alertam que a falta de clareza sobre quem administrará Gaza no pós-guerra — se o Hamas, a Autoridade Palestina ou uma administração internacional — poderá atrasar os processos de reconstrução.
A ONU sublinha ainda que a remoção de explosivos não detonados entre os escombros é um dos maiores riscos para as equipas no terreno, exigindo uma operação meticulosa que poderá prolongar-se por anos.
Os analistas alertam que reconstruir Gaza “não é apenas erguer edifícios, mas reconstruir uma sociedade”. A recuperação económica, a reabilitação de infraestruturas e o restabelecimento de serviços essenciais exigirão planeamento urbano sustentável e inclusão social.
“Não se trata apenas de restaurar o que existia. Trata-se de reconstruir com dignidade, segurança e esperança”, disse Cilliers, reforçando o apelo ao envolvimento global.
O desafio humanitário é imenso, mas, pela primeira vez em dois anos de conflito, surge uma luz ténue de reconstrução num território que, nas palavras de um relatório da ONU, “foi transformado num deserto urbano e numa ferida aberta da humanidade”.