Os Estados Unidos, o Canadá, países árabes e europeus demonstraram disposição para contribuir para o gigantesco plano de reconstrução da Faixa de Gaza, cujo custo total poderá atingir os 70 biliões de dólares, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

O anúncio foi feito esta terça-feira, 14 de outubro, em Genebra, por Jaco Cilliers, representante do PNUD, que destacou que há “indicações muito boas” de interesse de diversos governos em participar no esforço financeiro, embora nenhum tenha ainda anunciado valores concretos.

“O mundo compreende a dimensão desta tragédia e a urgência de agir. As indicações que recebemos são encorajadoras, mas o desafio é monumental”, afirmou Cilliers, durante a conferência de imprensa.

 

Uma destruição sem precedentes

De acordo com o relatório conjunto do PNUD, Banco Mundial e União Europeia, o valor estimado para reconstruir Gaza aumentou de 53 para 70 biliões de dólares, refletindo a ampliação dos danos e das necessidades após dois anos de conflito.

A guerra entre Israel e o Hamas deixou um rasto de devastação sem precedentes: cerca de 67.800 mortos e mais de 55 milhões de toneladas de escombros, segundo as autoridades de saúde de Gaza e os dados do PNUD.

Imagens de satélite analisadas pelas Nações Unidas mostram que 83% das edificações em Gaza City foram destruídas ou gravemente danificadas. A paisagem urbana transformou-se num cenário de ruínas, onde milhares de famílias regressam agora às suas casas reduzidas a entulho.

O PNUD compara o volume de destruição a “13 pirâmides de Gizé” ou a uma camada de 12 metros de detritos cobrindo todo o Central Park, em Nova Iorque — uma imagem simbólica da escala do desafio que a comunidade internacional enfrenta.

 

Financiamento e incertezas políticas

Apesar do otimismo cauteloso das Nações Unidas, não há compromissos financeiros formalizados. O PNUD e o Banco Mundial esperam arrecadar pelo menos 20 biliões de dólares nos primeiros três anos, o suficiente para restaurar infraestruturas críticas, como água, energia e habitação básica.

O presidente turco Recep Tayyip Erdoğan afirmou que pretende coordenar esforços com os países do Golfo, os EUA e a União Europeia para acelerar a mobilização de fundos. No entanto, especialistas alertam que a falta de clareza sobre quem administrará Gaza no pós-guerra — se o Hamas, a Autoridade Palestina ou uma administração internacional — poderá atrasar os processos de reconstrução.

A ONU sublinha ainda que a remoção de explosivos não detonados entre os escombros é um dos maiores riscos para as equipas no terreno, exigindo uma operação meticulosa que poderá prolongar-se por anos.

 

Reconstruir mais do que paredes

Os analistas alertam que reconstruir Gaza “não é apenas erguer edifícios, mas reconstruir uma sociedade”. A recuperação económica, a reabilitação de infraestruturas e o restabelecimento de serviços essenciais exigirão planeamento urbano sustentável e inclusão social.

“Não se trata apenas de restaurar o que existia. Trata-se de reconstruir com dignidade, segurança e esperança”, disse Cilliers, reforçando o apelo ao envolvimento global.

O desafio humanitário é imenso, mas, pela primeira vez em dois anos de conflito, surge uma luz ténue de reconstrução num território que, nas palavras de um relatório da ONU, “foi transformado num deserto urbano e numa ferida aberta da humanidade”.