O diretor regional do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) para a Ásia e Pacífico, Pio Smith, revelou que, desde 24 de janeiro, está em vigor uma suspensão de biliões de dólares em projetos de desenvolvimento financiados pelos EUA. Estes cortes afetam praticamente todos os programas de ajuda externa norte-americana.
Como resposta à ordem executiva do presidente Donald Trump, a agência especializada em saúde reprodutiva interrompeu os serviços que dependiam desses fundos. Estes recursos eram essenciais para mulheres e meninas em crise, especialmente no sul da Ásia. Smith mencionou o caso do Afeganistão, onde a ausência de apoio poderá resultar, entre 2025 e 2028, em 1.200 mortes maternas adicionais e cerca de 109 mil gravidezes indesejadas.
Apesar das medidas, o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) não reportou despedimentos ou cortes de acesso imediato às suas operações. No entanto, Jens Laerke, porta-voz da OCHA, explicou que estão a decorrer negociações com embaixadas dos EUA para compreender as implicações destas decisões. Segundo Laerke, o governo norte-americano financiou 47% dos apelos humanitários globais no ano anterior, o que evidencia a gravidade da atual crise financeira.
O novo governo dos EUA anunciou ainda que a USAID, principal agência de desenvolvimento do país, passará a estar sob a alçada do Secretário de Estado. Face a estas mudanças, Alessandra Vellucci, chefe do Serviço de Informação da ONU em Genebra, reiterou o apelo do secretário-geral das Nações Unidas por um relacionamento de confiança com o governo norte-americano, destacando a importância de um apoio mútuo que se manteve ao longo de décadas.
Pio Smith descreveu a situação dramática das mulheres em países afetados pela crise de financiamento: partos realizados em condições insalubres, elevado risco de fístula obstétrica, mortes neonatais evitáveis e ausência de assistência médica ou psicológica para vítimas de violência de género.
A realidade no Afeganistão é preocupante, com mais de 9 milhões de pessoas em risco de perderem o acesso a serviços básicos de saúde e proteção. As suspensões poderão afetar 600 equipas móveis de saúde, clínicas familiares e centros de apoio, agravando uma situação em que, a cada duas horas, uma mulher afegã morre de complicações evitáveis durante a gravidez.
Situações semelhantes registam-se noutros países. No Paquistão, mais de 1,7 milhões de pessoas, incluindo 1,2 milhão de refugiados afegãos, estão em risco de perder acesso a serviços essenciais de saúde reprodutiva com o encerramento de 60 unidades de saúde. No Bangladesh, o campo de refugiados de Cox’s Bazar, que abriga mais de 1 milhão de rohingyas, depende em grande parte dos serviços de saúde apoiados pelo UNFPA. Com quase metade dos partos a ocorrer nessas unidades, a suspensão ameaça diretamente a vida de milhares de pessoas.
O UNFPA alerta que será necessário um financiamento de 308 milhões de dólares para assegurar a continuidade dos serviços essenciais no Afeganistão, Bangladesh e Paquistão em 2025. Sem este apoio, os progressos alcançados em saúde e proteção poderão ser gravemente comprometidos.
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Foto de destaque: Criada por IA