Um testemunho que desafia a crença

Joffre Justino, conhecido pelo seu envolvimento na defesa da democracia em Angola e pelo seu papel ativo na política portuguesa, partilha um relato impressionante que parece saído de um enredo surreal.

Entre sanções impostas por organismos internacionais e um bloqueio absoluto à sua vida profissional, Joffre sobreviveu graças ao apoio discreto de amigos e familiares.

Este testemunho não é apenas uma memória pessoal; é uma reflexão pungente sobre a fragilidade da democracia e a luta pela justiça.

O início do pesadelo

Em 2002, Joffre Justino vivia em Portugal, onde desempenhava um papel ativo na comunicação social como porta-voz da UNITA e em movimentos pela paz e democracia em Angola. Contudo, foi surpreendido por sanções que o proibiram de trabalhar, receber rendimentos e até de gerir as empresas que tinha criado. Como consequência, viu-se obrigado a pedir subsídio de desemprego.

“O documento dizia que eu não tinha residência legal em Portugal, mesmo sendo eleito local em Lisboa e vivendo aqui há anos”, recorda. Este carimbo burocrático retirava-lhe o direito ao apoio que desesperadamente precisava para sobreviver.

O impacto das sanções: entre o absurdo e a sobrevivência

As sanções, originalmente impostas pelas Nações Unidas e transpostas para a União Europeia e o Estado português, congelaram todas as contas bancárias de Joffre. “Estava proibido de receber ajuda, fosse de quem fosse. Só me restava morrer à fome”, afirma.

A situação tornou-se insustentável até que figuras como Miguel Anacoreta Correia e Guilherme Oliveira Martins intervieram para desbloquear as contas das suas empresas, permitindo que estas continuassem a operar. Mesmo assim, o dano emocional e profissional estava feito.

A luta pela democracia e a falta de reconhecimento

Joffre, militante da UNITA e do Partido Socialista à época, não se cala sobre o impacto que a sua posição política teve neste processo. “Paguei um preço elevado por defender a democracia e a liberdade, tanto em Angola como em Portugal. Curiosamente, António Guterres, hoje secretário-geral da ONU, foi o primeiro-ministro que aceitou que eu fosse sancionado desta forma.”

Apesar de tudo, Joffre continua a acreditar na democracia como um valor essencial. “Sempre me bati contra as ditaduras, sejam fascistas ou soviéticas. Não basta dizer que somos democratas; é preciso agir como tal.”

Uma lição de resiliência

Passados 22 anos, Joffre nunca recebeu um pedido de desculpas ou uma explicação formal. Contudo, o seu tom confessional carrega mais do que mágoa; reflete uma determinação inabalável. “Agradeço a todos os que me apoiaram, mesmo discretamente. Foram esses gestos que mantiveram a minha família e o meu ego intactos.”

O testemunho de Joffre Justino é um lembrete poderoso sobre os perigos da burocracia mal utilizada e o preço da coragem em tempos de adversidade. É também um apelo para que a sociedade permaneça vigilante e solidária, garantindo que histórias como esta não se repitam.

Nota do Editor

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Veja aqui o testemunho completo de Joffre Justino em vídeo e conheça esta história de resiliência e luta pela democracia: