Num sábado ameno e  de sol  na Festa do Avante, o ponto de encontro anual de militantes e simpatizantes de esquerda, onde as vozes da revolução ainda ecoam nas sombras das árvores. Entre risos, música e bandeiras ao vento, uma figura surge na minha frente, inconfundível: barba, boina com uma estrela solitária e olhar penetrante.

Ernesto "Che" Guevara, ou melhor, a sua essência intemporal, parecia estar ali comigo, num desses momentos onde o imaginário encontra o real.

Incrédulo, estendi a mão. Ele sorriu, como quem já conhecia as dúvidas que me iriam assolar. Decidi aproveitar a oportunidade. Afinal, quem recusaria um diálogo com o próprio Che Guevara? Nós, do Estrategizando, nunca fugimos a uma boa conversa.

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Eu: Che, se estivesses vivo hoje, como verias o estado do mundo? O que te diria a ascensão de novos imperialismos, como o tecnológico, que parece dominar e vigiar cada um de nós, das redes sociais à política?

Che Guevara: O imperialismo, seja qual for a sua forma, sempre encontrará novas maneiras de dominar, de explorar. Se no meu tempo o vi nas armas e na economia, hoje ele manifesta-se de forma mais subtil, nas redes que escravizam mentes e alienam povos. O controlo sobre a informação, sobre os dados, é a nova forma de colonialismo. Cada clique e cada "gosto" são como um voto que damos, sem pensar, para manter o sistema. Mas lembra-te: não existe arma mais poderosa do que a consciência de um povo desperto.

Eu: E a América Latina? Continua a ser o coração da luta contra essas opressões, ou vês as coisas de outra forma?

Che:A América Latina é, e sempre será, um caldeirão de resistências. O solo de onde brotam revoluções nunca fica estéril. Mas hoje, a batalha é mais complexa. Não é apenas uma questão de terra, de fome ou de fronteiras. É uma luta pela dignidade humana em todas as suas formas. Países como o Brasil, a Argentina, o Chile — são exemplos de como o ciclo de esperanças e desilusões é incessante. Mas se há uma coisa que aprendi, é que a luta nunca termina. "Hasta la victoria, siempre" não é um slogan vazio, é um lembrete de que a revolução é um processo contínuo, e não um fim.

Eu: A revolução contínua... Isso faz-me pensar nas desilusões que muitas vezes acompanham os grandes ideais. Como lidas com o facto de que algumas revoluções, incluindo a cubana, levaram a governos que, segundo alguns, se tornaram autoritários?

Che: Sabes, uma revolução nasce da necessidade urgente de justiça. Mas a sua manutenção é um desafio de proporções gigantescas. O poder corrompe, não há como negar. Quando se luta com tudo o que se tem, corre-se o risco de, no final, não se saber bem como governar. Fico triste ao ver que algumas das nossas vitórias iniciais foram transformadas em sistemas fechados. No entanto, é preciso lembrar que sem luta, sem revolta, essas mesmas nações poderiam ainda estar sob a bota esmagadora do colonialismo direto. A revolução não é perfeita, mas não lutar seria ainda pior.

Eu: E se olharmos para as lutas modernas? Como as mudanças climáticas, os direitos das minorias e a ascensão de movimentos populistas. O que diriam os revolucionários de outrora sobre essas novas fronteiras?

Che: A Terra é a nossa pátria comum, e vê-la destruída por ganância e descuido é uma das maiores tragédias da modernidade. Nos meus dias, lutei pelos oprimidos, mas hoje, é o próprio planeta que grita por justiça. Se não tomarmos conta do nosso lar, que revolução pode existir? Quanto às minorias, sempre acreditei que uma revolução verdadeira deve ser inclusiva. Não se pode falar de liberdade quando ela é negada a alguns. As mulheres, os povos indígenas, a comunidade LGBTQ+ — todos têm um lugar na mesa da luta. O populismo, no entanto, é uma armadilha. É a máscara de velhos inimigos que se apresentam como salvadores, mas no fundo, não fazem mais do que perpetuar o sistema que fingem combater.

Eu: Falemos de Portugal. Estamos na Festa do Avante, um evento que celebra a resistência, a solidariedade e o socialismo. Que papel achas que a Festa do Avante desempenha, à luz dos desafios modernos?

Che: A Festa do Avante é mais do que uma celebração, é um símbolo vivo da resistência e da capacidade de mobilização. O seu papel é fundamental, não apenas como um encontro de ideias, mas como um espaço de educação política e de reafirmação de ideais que, muitas vezes, são silenciados. No entanto, o seu impacto deve transcender a festa em si. Deve ser um catalisador para a ação no quotidiano, uma semente de consciência que se multiplica. Hoje, mais do que nunca, estes eventos devem servir para unir diferentes vozes da esquerda e encontrar novas formas de enfrentar os desafios globais e locais, sem perder o espírito de solidariedade que os define.

Eu: O Partido Comunista Português, apesar da sua história de luta, tem vindo a perder influência. Que conselho darias ao PCP para se adaptar e continuar relevante no cenário político atual?

Che: A relevância de um partido não se mede apenas pelos votos, mas pela sua capacidade de se adaptar sem perder a sua essência. O PCP tem uma história rica, mas a história, por si só, não garante o futuro. O partido deve abrir-se mais ao diálogo com as novas gerações e entender que as lutas de hoje, como o feminismo, a crise climática e os direitos digitais, são partes essenciais da luta revolucionária. Não se pode ficar preso à retórica do passado sem integrar as novas formas de opressão que surgem no presente. O meu conselho seria: olhem para a juventude e ouçam as suas preocupações, pois é nelas que reside o futuro da luta. Um partido que não se adapta às mudanças sociais arrisca-se a ser uma relíquia, em vez de ser um motor de mudança.

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A conversa foi fluindo, mas a realidade começava a apagar aquela figura da minha frente. O sol já ia baixo, a multidão engrossava, e a música revolucionária voltava a soar mais forte. Senti que o tempo era curto.

Eu: Che, se pudesses deixar uma última mensagem para esta geração, o que dirias?

Che: Nunca se esqueçam de que o poder está nas vossas mãos. Não nas mãos dos líderes ou dos sistemas, mas nas vossas. Vocês são os arquitetos do futuro. Nunca percam a capacidade de se indignar, de questionar e de agir. A revolução começa dentro de cada um de nós. E lembra-te sempre: até à vitória, sempre. 🌍✊

E assim, num piscar de olhos, Che desapareceu. Fiquei ali, no meio da multidão, com a sensação de que, de alguma forma, a sua presença ainda estava viva. Não nas palavras que trocámos, mas no espírito indomável que ele deixou no mundo. Afinal, como ele bem disse, "a luta nunca termina".

Nota do editor

Neste artigo, explorámos a essência intemporal da luta de Che Guevara, uma luta pela justiça, liberdade e solidariedade — valores que também norteiam a nossa missão no Estrategizando. Tal como Che acreditava que a revolução só é possível com a união das forças populares, nós acreditamos que o jornalismo só pode prosperar com o apoio de leitores comprometidos com a verdade.
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No final deste artigo, gostaria de partilhar uma reflexão sobre o processo criativo por trás deste texto e como a Inteligência Artificial (IA) pode ser uma aliada poderosa para jornalistas e comunicadores. Este diálogo imaginário com Che Guevara foi inspirado por uma ferramenta de IA que ajudou a estruturar, desenvolver e enriquecer as ideias aqui presentes, permitindo-nos explorar cenários criativos e oferecer uma perspetiva única aos nossos leitores.

A IA, longe de substituir o pensamento crítico e humano, torna-se um parceiro que facilita a pesquisa, acelera processos e amplifica a nossa capacidade de criar conteúdos relevantes e impactantes. Através do apoio de IA, podemos focar-nos no que realmente importa: investigar a verdade, promover o debate e continuar a informar de forma ética e inovadora. Este artigo é um exemplo de como a tecnologia pode ser usada de forma criativa para nos ajudar a navegar nos desafios do jornalismo moderno, sempre com a verdade e a justiça como guias.

Convidamos, assim, os nossos leitores a abraçar estas novas ferramentas como aliadas na luta pela informação consciente e independente, sem nunca esquecer que, no fim, é o ser humano que define o rumo e o propósito de cada palavra.