Éramos, maioritariamente, estudantes de Economia no ISCEF, alinhados com a tendência do Ensino Popular, seguindo a via histórica do CMLP, mas acreditávamos que seríamos mais eficazes no combate. No jornal Guerra Popular, nunca escrevi — essa era a tarefa dos líderes, como Júlio Dias, ou dos mais responsáveis, como António Peres ou João Duarte Carvalho. O meu papel era organizar pequenos comités, quatro ou cinco, para debater e distribuir o jornal. Este surgia em diversos cursos: Economia, Técnico, Agronomia, Medicina, entre outros.
Alguns de nós foram presos pela PIDE, outros exilaram-se. No pós-25 de Abril, mais uma vez não escrevi, mas militava ativamente nas ruas, vendendo o jornal A Voz do Trabalhador e o Unidade Popular, sempre de forma voluntária.
Depois chegou a fase da escrita. Passei pelo Jornal de Setúbal, pela Voz do Povo — na fase independente da UDP —, e ainda pelo Diário de Notícias, Diário Popular, Expresso, O Jornal, Portugal Hoje, e o Terra Angolana. Em 1992, dediquei-me a 100% ao jornalismo, até ser atingido pelo golpe social-fascista de José Eduardo dos Santos, no pós-eleições em Angola.
A escrita continuou, mas as portas fecharam-se. Por defender a Democracia e a oposição ao MPLA, acabei por militar na UNITA. Tanto à direita como à esquerda, beneficiários do sistema MPLA, bloquearam sempre que podiam qualquer espaço de livre informação sobre Angola. Contudo, as redes sociais emergiam — mesmo que timidamente — e, através delas, consegui espalhar a escrita pelo mundo.
O resultado? Fui proibido de trabalhar, de ser remunerado, de ser sócio das organizações que ajudei a criar, de ter contas bancárias, ou de receber apoios de amigos. As sanções impostas pela ONU, pela UE e pelo Estado português tinham um propósito claro: uma morte lenta e humilhante.
Nesse período, mantive clandestinamente a UPA (União e Paz para Angola) ou algo equivalente, lutando contra as sanções e o cerco à UNITA. Operava saltando de cibercafé em cibercafé em Lisboa, regressando ao tempo do velho Guerra Popular, numa ação clandestina.
Depois surgiu o Estrategizando, passando por vários modelos até ao formato atual. Sempre apoiado por alguns, incentivado por poucos e vilipendiado por muitos.
Deixo-vos aqui uma breve história de uma pequena, mas saborosa vitória: antes do 25 de Abril, o PCP via-nos como radicais pequeno-burgueses de fachada socialista. Após o 25 de Abril, em 1975, dois partidos dessa linha — o PCP(ML) e o MRPP — foram proibidos de concorrer, enfraquecidos pela sua radicalidade e alinhamento pró-chinês. Hoje, ao visitar anualmente a Festa do Avante, que considero a melhor festa do país, faço questão de passar no pavilhão do Partido Comunista da China. É o meu tributo como ex-maoísta e o gosto doce de ver o PCP reconhecer, finalmente, a razão dos maoístas desde 1964.
É com este espírito de unidade-crítica-unidade e de Livre e Progressista Informação que o Estrategizando se posiciona.
Subscreva, divulgue, escreva e debata connosco. Aqui, a sua voz tem espaço!