Na última segunda-feira, 28 de abril de 2025, Portugal mergulhou subitamente na escuridão.

Mas o que muitos chamaram de "apagão elétrico" foi, na verdade, a revelação brutal de uma realidade mais sombria: a falência de um sistema que se diz moderno, tecnológico e preparado — mas que não passa de uma fachada corporativa frágil, conduzida por gestores ausentes e lideranças políticas desconectadas do país real.

Não se tratou apenas de falta de luz. Foi um apagão de estratégia, de prevenção, de responsabilidade. Como é possível que as empresas mais lucrativas do setor energético e das telecomunicações, com todos os recursos à sua disposição, não tenham planos robustos de contingência? Como é que não anteciparam, não previram, nem sequer reagiram com eficiência a um colapso com impacto nacional?

Pior: onde estava o governo? Onde estava a voz do primeiro-ministro Luís Montenegro durante as primeiras horas do caos? Escondido no conforto do Conselho de Ministros, enquanto milhares de cidadãos ficavam presos em hospitais às escuras, transportes paralisados, escolas encerradas e famílias sem qualquer comunicação.

A resposta institucional foi, no mínimo, vergonhosa. A ministra da Administração Interna? Um desastre. A ministra do Ambiente? Um silêncio cúmplice. E os jornalistas que deveriam questionar, fiscalizar, exigir transparência? Muitos preferiram o papel de figurantes sorridentes num teatro político de encobrimento, abanando a cabeça em conivência e salvando a face do “menino” Montenegro, como quem embala o ego de um líder frágil e impreparado.

E o povo? O povo foi para casa, não para descansar, mas porque não tinha outra hipótese. Sem eletricidade, sem água, sem transportes, sem informação fiável. Se o dia tivesse sido de chuva ou frio, teríamos assistido a tragédias maiores. Nos hospitais, foram os profissionais — e não os sistemas — que salvaram o dia. O mérito, como sempre, foi da resistência humana, não da infraestrutura tecnológica.

E as empresas? As grandes marcas que se enchem de prémios e selos de “responsabilidade social” mostraram a sua verdadeira face: marketing oco, propaganda barata. A verdadeira responsabilidade desapareceu com a energia.

O mais preocupante é que, passados dias, ainda não se sabe ao certo o que aconteceu. Falou-se em falhas técnicas, excluíram-se ciberataques ou sabotagens. Mas ninguém exige explicações aos administradores das empresas envolvidas. Nenhum acionista os confronta. Nenhum órgão público os responsabiliza. Até quando?

O que aconteceu foi um ensaio geral do que pode vir a repetir-se — e, da próxima vez, talvez com consequências irreversíveis. E, se nada mudar, o próximo blackout não será apenas de energia. Será um apagão de confiança, de democracia e de esperança.