Após três anos de conflitos devastadores, Ucrânia e Rússia tentam, mais uma vez, negociar um cessar-fogo que possa pôr fim às hostilidades, ainda que temporariamente.

Contudo, esta tarefa revela-se extremamente complexa devido a três pontos cruciais que dificultam um entendimento definitivo entre os dois países, bem como os interesses adicionais do atual presidente norte-americano, Donald Trump.

O primeiro obstáculo centra-se no controlo territorial. Atualmente, Moscovo ocupa cerca de 20% do território ucraniano, incluindo importantes avanços militares recentes na região leste. Para Putin, interromper agora os combates poderia significar abdicar dessas vitórias estratégicas. Por outro lado, Zelensky enfrenta um dilema profundo: aceitar um cessar-fogo pode representar uma violação do princípio fundamental de que não haverá trégua enquanto soldados russos permanecerem em território reconhecido internacionalmente como ucraniano.

A segurança de longo prazo é o segundo ponto delicado das negociações. A Ucrânia exige garantias concretas dos Estados Unidos para proteger o país de futuras agressões russas. Contudo, Washington mostra-se relutante em assumir esse compromisso explícito. Um exemplo claro dessa tensão foi a explosiva reunião entre Trump e Zelensky na Casa Branca, marcada por trocas públicas de acusações e cobranças, um episódio raríssimo entre aliados históricos.

Por fim, o terceiro ponto é a demonstração de força política. Putin quer garantias explícitas do Ocidente para interromper o apoio militar e o fornecimento de inteligência a Kiev, algo que a Ucrânia e seus aliados europeus dificilmente aceitarão, por verem nessa condição uma sentença quase certa de derrota. Dentro da Rússia, as conversas entre Putin e Trump são vistas como vitórias diplomáticas, reforçando a posição do presidente russo internamente.

Trump, por sua vez, também possui interesses próprios, como a exploração de riquezas minerais ucranianas e o controle de usinas nucleares no país, alegando preocupações de segurança. Essa abordagem contrasta significativamente com a postura do seu antecessor, Joe Biden, que oferecia apoio militar e financeiro irrestrito à Ucrânia.

Neste cenário complexo, Zelensky tem procurado apoio na Europa enquanto tenta preservar tanto a integridade territorial como as riquezas naturais da Ucrânia, navegando entre os interesses geopolíticos das duas superpotências.

As negociações continuam em aberto, e a comunidade internacional acompanha atentamente os próximos desdobramentos, decisivos não só para a Ucrânia e Rússia, mas também para o equilíbrio político global.

Fonte:

BBC News Brasil