Na sua análise, estas iniciativas inserem-se mais numa lógica de diplomacia político-partidária do que numa verdadeira diplomacia de Estado orientada para a alavancagem económica.
“O turismo é uma indústria de paz”, sublinhou, recordando que esta atividade promove cultura, identidade e interação entre povos. Angola, afirmou, possui uma riqueza natural e cultural extraordinária — montanhas, cataratas, lagos, florestas, savanas e património arquitetónico — que não resulta da ação humana e que, paradoxalmente, continua por valorizar ou, em alguns casos, por destruir.
Fernando Heitor destacou ainda o esforço silencioso de pequenos e médios empresários angolanos que, com poucos recursos e crédito limitado, têm criado resorts de pequena escala, espaços de lazer, restauração e iniciativas locais com potencial turístico. O problema, segundo o comentador, é que estas realidades permanecem invisíveis: não há postais turísticos, materiais promocionais nos aeroportos, livrarias ou centros de chegada ao país que deem a conhecer essa Angola real e diversa.
A crítica estendeu-se à intenção governamental de criar um Birô de Convenções para dinamizar o turismo, anunciado para 2026. Para Fernando Heitor, trata-se de uma “miragem”. Na sua metáfora, não se constrói uma casa pelo telhado: um país sem uma indústria turística estruturada, infraestruturas básicas consolidadas e serviços integrados não pode começar por organismos de promoção internacional.
“O trabalho de casa tem de ser feito, e bem feito”, afirmou. Estradas, pontes, energia, água, saúde, segurança, museus, espaços culturais e roteiros turísticos coerentes são, na sua perspetiva, pré-condições essenciais. Só depois faria sentido pensar em estruturas de promoção externa. Caso contrário, o risco é criar mais organismos burocráticos sem impacto real, muitas vezes associados a lógicas de emprego partidário.
O analista alertou também para entraves estruturais como a corrupção, a burocracia excessiva, a carga fiscal considerada asfixiante e a falta de articulação entre setores. O turismo, recordou, é uma indústria transversal que envolve alimentação, transportes, energia, água, saúde e serviços. Sem uma “correia de transmissão saudável” entre estes domínios, qualquer estratégia está condenada a ficar no papel.
Com uma linguagem marcada pelo pragmatismo, Fernando Heitor deixou uma ideia forte: Angola precisa de “sonhos executivos”, capazes de caminhar no terreno, e não de utopias que apenas voam em discursos, fóruns e simpósios. O desafio, concluiu, não é anunciar estratégias, mas criar condições reais para que o turismo se torne uma atividade sustentável, inclusiva e economicamente relevante para o país.