O episódio, amplamente repercutido na mídia, marca um momento inédito na diplomacia mundial: um chefe de Estado europeu interrompendo um presidente americano para desmentir uma mentira em tempo real.
A tensão ocorreu quando Trump repetiu uma alegação falsa de que a ajuda europeia à Ucrânia seria baseada em empréstimos, enquanto os EUA fornecem recursos sem expectativa de reembolso. Macron, visivelmente incomodado, corrigiu imediatamente a afirmação, destacando que 60% da assistência total à Ucrânia foi fornecida diretamente pela Europa em forma de subsídios e não de empréstimos.
“Para ser claro, pagámos 60% do esforço total através de garantias de empréstimos dos EUA e também fornecemos dinheiro real”, afirmou Macron, enquanto Trump insistia na sua narrativa incorreta.
O incidente expôs um problema maior: a degradação da posição dos EUA no cenário internacional sob a liderança de Trump. Até hoje, todos os presidentes americanos, desde Franklin D. Roosevelt, atuaram como líderes do mundo livre, posicionando-se contra regimes autoritários e violações da soberania internacional. No entanto, pela primeira vez na história, os EUA deixaram de apoiar uma resolução da ONU contra a invasão da Ucrânia pela Rússia, juntando-se ao bloco alinhado com Vladimir Putin.
Esse afastamento dos princípios tradicionais da política externa dos EUA provocou reações contundentes. O senador republicano Mitch McConnell afirmou que negar a responsabilidade da Rússia pelo conflito é um erro grave e prejudicial, alertando que tal postura enfraquece a segurança global e incentiva os adversários americanos.
Apesar da correção pública de Macron, Trump insistiu na sua versão equivocada, repetindo a mesma alegação como se a refutação do líder francês nunca tivesse ocorrido. Esse comportamento reforça o que o historiador Timothy Snyder descreveu como a divisão entre a realidade e a “irrealidade” promovida por Trump e seus apoiadores.
"Os seguidores de Trump não são alcançáveis pela realidade", escreveu Snyder. "Mesmo quando um líder europeu o desmascara ao vivo, eles simplesmente ignoram e continuam acreditando no que querem."
A sequência de embaraços para Trump não terminou aí. Durante a mesma conferência, o ex-presidente foi questionado sobre as tarifas comerciais que ele mesmo impôs ao Canadá e ao México. Em resposta, Trump criticou acordos comerciais anteriores, insinuando que haviam sido mal negociados e prejudicavam os EUA.
A incoerência foi imediatamente exposta quando os jornalistas resgataram imagens de Trump assinando exatamente o mesmo acordo que agora criticava, chamando-o, na época, de "o melhor tratado comercial da história”. A contradição levantou questionamentos sobre sua capacidade cognitiva e coerência política, levando muitos a se perguntarem se a imprensa americana reagiria com a mesma severidade caso fosse o presidente Joe Biden cometendo tal erro.
O episódio reflete uma realidade preocupante: o papel dos EUA como líder global está em xeque. Com Trump se afastando dos princípios históricos da diplomacia americana e cometendo gafes sucessivas, outros líderes, como Emmanuel Macron, surgem como os verdadeiros defensores dos valores democráticos.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reforçou essa ideia ao lembrar que a luta do seu país é uma batalha pela sobrevivência e pela soberania:
"Os que lutam sobrevivem. Os que se rendem são apagados pela história. E nós, ucranianos, existimos e sempre existiremos.”
O impacto da posição de Trump na arena internacional ainda será sentido nos próximos meses. No entanto, se depender dos acontecimentos desta conferência, os EUA podem estar a ceder definitivamente o seu lugar na liderança do mundo livre – e o mundo está atento a tudo disso.