Isto é, se a Índia continuasse a comprar petróleo russo, a tarifa permaneceria podendo ate ser aumentada mas se começar a diversificar a compra de petróleo, então ela pode ser reduzida ou removida.
O assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, argumentou que "o lobby do petróleo da Índia está a financiar a máquina de guerra de Putin".
Como era de se esperar, as reações na Índia foram tambem duras .
O Ministério das Relações Exteriores da Índia condenou tanto a tarifa básica quanto a penalidade adicional como injustas, injustificadas e irracionais.
Em um comunicado , lembrou que, em 2024, a União Europeia manteve um comércio bilateral de 67,5 bilhões de euros (cerca de US$ 78 bilhões) em mercadorias com a Rússia.
Que os Estados Unidos continuam a importar hexafluoreto de urânio, paládio, fertilizantes e produtos químicos da Rússia para suas indústrias.
Assim Trump "corre o risco de afundar vinte e cinco anos de relações EUA-Índia" como referiu o analista Evan Fiegenbaum este anúncio de tarifas levou à "repolitização" do relacionamento e a uma "catástrofe em câmara lenta".
Fareed Zakaria, da CNN, que há muito tempo aconselha líderes indianos a estreitar laços com os Estados Unidos, deixou claro que seria "muito pressionado" a dar o mesmo conselho à Índia hoje.
Na Índia, há movimentos que apelam a ainda mais abertura para a China e os BRICS e com a Rússia claro, mesmo daqueles que se esforçaram para fazer o oposto até poucas semanas atrás.
Tambem um acordo comercial com a UE provavelmente estará no topo da agenda dos negociadores indianos. Bom de comer bem e não vou ver televisão
Quase todas as empresas de tecnologia estadunidenses fizeram grandes apostas na Índia e querem mantê-las!
Para a Google e a Microsoft ou às empresas com modelos de inteligência artificial de ponta, a Índia é um mercado relevante.
A Força Espacial dos EUA trabalha com startups espaciais indianas e a Índia compra uma quantidade considerável de equipamentos de defesa dos Estados Unidos.
Perante tal será necessário um canal secundário entre os dois países.
A Índia e os Estados Unidos passaram mais de duas décadas a aprofundar e a ampliar a conexão ora existente mas atualmente há pouca confiança entre as autoridades dos dois países.
Do lado estadunidense há uma clara hesitação, mesmo em ambientes fechados, em ir além do mandato estabelecido pelas proclamações públicas de Trump e para a Índia, é simplesmente difícil para as autoridades dialogarem com a outra parte quando os atores-chave mudam constantemente.
Fontes internas do governo estadunidense sugeriram que o impasse atual poderia ser atenuado se a Índia fizesse uma declaração pública sugerindo uma diversificação das importações de petróleo russo.
O que eles ignoram é a realidade política e estratégica que torna tal pedido impossível, mesmo que a Índia já tenha tomado, ou ainda possa tomar, tais medidas em seu próprio interesse.
Uma declaração pública neste momento, especialmente após o pronunciamento público de Navarro de que a Índia está a alimentar a máquina de guerra russa, será vista como uma submissão à vontade americana.
Na configuração atual, a melhor aposta seria que autoridades influentes de diversos setores e especialistas que acompanham essa relação em ambos os países conversassem com autoridades do outro lado.
Não ha dúvida de que os dois conjuntos de tarifas sobre a Índia são inspirados tanto pela mudança de postura de Trump em relação à Rússia — e ao presidente russo Vladimir Putin em particular — quanto por seu claro desejo de ser reconhecido pela Índia como um construtor da paz que pôs fim ao recente conflito Índia-Paquistão.
Sobre ums mediação, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi deixou claro no parlamento que "nenhum líder mundial pediu à Índia que interrompesse a Operação Sindoor".
Do lado indiano, não há mediação em um conflito entre a Índia e o Paquistão mas o impasse precisará de ser resolvido de alguma forma.
Há um papel importante para as grandes empresas estadunidenses, que continuam a investir biliões de dólares na Índia, e para as empresas indianas, que estão a investir mais nos Estados Unidos, no uso de seus escritórios e redes.
Por fim, no nível funcional, as reuniões e visitas pré-agendadas não cessaram e há apetite suficiente e ainda espaço no nível administrativo para continuar a discutir questões substantivas.
Entretanto autoridades estadunidenses que trabalham com laços tecnológicos estratégicos entre os dois países foram reorganizadas no Departamento de Estado.
As conversas sobre parcerias em infraestrutura de IA e investimentos farmacêuticos indianos nos Estados Unidos sinda assim continuam.
De muitas maneiras, a conexão funcional desempenhou um papel importante na injeção de um certo grau de resiliência num momento em que o relacionamento político precisa de reparos.
Nenhuma dessas ações provavelmente fará ecuperar a confiança quebrada por sucessivos anúncios sobre tarifas, Rússia, economia indiana e muito mais.
Declaração do Porta-voz Oficial
04 de agosto de 2025
A Índia tem sido alvo dos Estados Unidos e da União Europeia por importar petróleo da Rússia após o início do conflito na Ucrânia. De fato, a Índia começou a importar da Rússia porque os suprimentos tradicionais foram desviados para a Europa após a eclosão do conflito. Os Estados Unidos, naquela época, incentivaram ativamente essas importações pela Índia para fortalecer a estabilidade dos mercados globais de energia.
2. As importações da Índia visam garantir custos de energia previsíveis e acessíveis para o consumidor indiano. Elas são uma necessidade imposta pela situação do mercado global. No entanto, é revelador que as próprias nações que criticam a Índia estejam se entregando ao comércio com a Rússia. Ao contrário do nosso caso, esse comércio não é sequer uma compulsão nacional vital.
3. A União Europeia, em 2024, teve um comércio bilateral de 67,5 bilhões de euros em bens com a Rússia. Além disso, teve um comércio de serviços estimado em 17,2 bilhões de euros em 2023. Isso é significativamente maior do que o comércio total da Índia com a Rússia naquele ano ou posteriormente. As importações europeias de GNL em 2024, de fato, atingiram um recorde de 16,5 milhões de toneladas, superando o último recorde de 15,21 milhões de toneladas em 2022.
4. O comércio entre a Europa e a Rússia inclui não apenas energia, mas também fertilizantes, produtos de mineração, produtos químicos, ferro e aço, máquinas e equipamentos de transporte.
5. No que diz respeito aos Estados Unidos, eles continuam importando da Rússia hexafluoreto de urânio para sua indústria nuclear, paládio para sua indústria de veículos elétricos, fertilizantes e produtos químicos.
6. Nesse contexto, a Índia é alvo injustificada e irracional. Como qualquer grande economia, a Índia tomará todas as medidas necessárias para salvaguardar seus interesses nacionais e sua segurança econômica.
Nova Delhi
, 4 de agosto de 2025