Em tempos de crises e decisões geopolíticas intensas, vale a pena revisitar a História para compreender o presente.

No Brasil, os historiadores costumam dizer que o país nasceu dividido entre dois partidos simbólicos: o de Tiradentes, mártir da luta pela soberania nacional, e o de Joaquim Silvério dos Reis, o traidor que entregou os ideais da Inconfidência Mineira ao poder colonial. Uma dicotomia que atravessa séculos e que, surpreendentemente, ainda ressoa na política atual.

Vemos isso, por exemplo, nas reações opostas dos ex-presidentes Lula da Silva e Jair Bolsonaro ao recente tarifaço anunciado por Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos. Enquanto Lula responde com firmeza, preparando uma campanha patriótica com o lema “O Brasil é dos brasileiros”, em defesa da indústria nacional e da autonomia económica, Bolsonaro faz o oposto: defende Trump e, ainda por cima, ataca o seu próprio país, acusando-o de estar “contaminado por um vírus socialista”.

A perplexidade aumenta quando recordamos que Bolsonaro, já fragilizado por múltiplas acusações e à beira de uma possível condenação por golpismo, insiste em apoiar cegamente uma potência estrangeira que se encontra geopoliticamente isolada. Pior ainda, ignora os impactos dessas escolhas no emprego, na indústria e no desenvolvimento económico do Brasil. A sua postura não revela apenas alienação – revela submissão.

E Portugal?
Por cá, a História também nos deixou marcas semelhantes. Recordemos os Vasconcelistas, defensores da causa nacional, e os Almadistas, mais alinhados com interesses estrangeiros e externos à verdadeira vontade popular. Hoje, infelizmente, não vemos uma força política ou social verdadeiramente vasconcelista a afirmar-se com coragem contra os ventos da guerra e da instabilidade internacional.

Num contexto em que muitos parecem aplaudir a escalada militar e o conflito, e tão poucos se erguem para dizer "Não à Guerra", a economia portuguesa – altamente dependente do exterior – arrisca-se a pagar um preço elevado pela omissão. Falta-nos, talvez, uma nova geração de “Tiradentes”, dispostos a defender os interesses nacionais com firmeza e visão estratégica.

Como disse o filósofo George Santayana, “Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo.” Urge, pois, aprender com a História para não tropeçar no presente.

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Foto de destaque: Criada por IA

Na imagem simbólica que foi gerada, as duas figuras representam personagens históricos centrais na narrativa da independência e soberania do Brasil durante o período colonial:

 

1. Tiradentes (à esquerda)

Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, foi o mártir da Inconfidência Mineira, movimento de inspiração iluminista que lutava contra os abusos fiscais e a dominação portuguesa no final do século XVIII.

  • Símbolo da luta pela soberania nacional, da coragem e da entrega ao ideal de liberdade.

  • Foi enforcado e esquartejado em 1792, tornando-se um ícone da resistência à opressão colonial e da construção de uma identidade brasileira.

 

2. Joaquim Silvério dos Reis (à direita)

Foi o delator da Inconfidência Mineira, aquele que entregou os companheiros – incluindo Tiradentes – às autoridades portuguesas em troca de perdão de dívidas e benefícios pessoais.

  • Símbolo da traição, da submissão ao poder estrangeiro e da escolha pelo interesse próprio em detrimento do bem comum.

 

Contexto Visual

A imagem usa um estilo dramático e clássico para sublinhar o conflito eterno entre a lealdade à pátria e a submissão ao poder estrangeiro. A luz sobre Tiradentes e a sombra sobre Silvério reforçam a dicotomia entre dignidade e servilismo, entre sacrifício e oportunismo.