O diretor de Políticas Públicas e Relações Governamentais da Amcham, Fabrizio Panzini, explica que o impacto reduzido se deve à capacidade das empresas brasileiras de redirecionar commodities a outros mercados.
“Os produtos-alvo de alíquota máxima são commodities, como café, carne e açúcar, que têm mais facilidade para redirecionar as vendas a outros países”, afirmou.
Um dos setores mais afetados foi o cafeeiro. Segundo Marcos Matos, diretor executivo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), as exportações para os Estados Unidos caíram 56% em setembro em relação a 2024 e devem chegar a zero nos próximos dias.
Matos explica que o tarifaço provocou uma escalada de preços ao consumidor americano, com a libra-peso subindo de 284 para 380 centavos de dólar.
“Isso causou uma grande realocação do mercado. A Colômbia vai focar nos EUA, enquanto o Brasil deve ampliar vendas para a Europa e outros destinos”, disse.
Enquanto as commodities encontram saídas, outros setores sentem o peso das tarifas.
Na indústria da madeira, mais de 4 mil trabalhadores foram demitidos, e as empresas acumulam estoques e custos de armazenagem elevados.
Panzini ressalta:
“Fora das commodities, o restante acaba ficando muito mais fragilizado, como o mel do Nordeste, a madeira e os móveis do Sul e as máquinas e equipamentos do Sudeste.”
Desde abril, o governo Trump tem aplicado tarifas recíprocas e adicionais que podem somar até 50%, atingindo aço, alumínio, cobre, automóveis e autopeças. Essas medidas baseiam-se em seções legais da Lei de Expansão do Comércio dos EUA, que permitem sobretaxas sobre bens considerados estratégicos para a segurança nacional.
Mesmo sob a avalanche de tarifas, as exportações brasileiras aos EUA cresceram 1,6% de janeiro a agosto, em comparação ao mesmo período de 2024 — um resultado impulsionado pelo bom desempenho do primeiro semestre.
Contudo, em agosto houve queda de 18,5%, refletindo o início dos efeitos do tarifaço.
Para Cristina Zanella, diretora da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), o setor está a adaptar-se.
“Empresas que direcionavam a maior parte das suas exportações para os EUA vão distribuir esses produtos para outros países. Existe essa reestruturação no mercado internacional”, afirmou.
Enquanto o Brasil reorganiza os seus fluxos comerciais, os efeitos mais duros recaem sobre a própria economia americana.
De acordo com o fiscalista Leonardo Briganti, do escritório Briganti Advogados,
“O efeito foi mais danoso para os EUA. A ideia de reindustrializar o país não aconteceu. Houve alta de custos e o pequeno e médio importador americano estão a sofrer.”
A pressão interna já obriga a administração Trump a discutir um pacote de 10 mil milhões de dólares para socorrer o agronegócio americano, especialmente os produtores de soja, que enfrentam custos crescentes e perda de competitividade.
As tarifas trumpistas, criadas com o propósito de fortalecer a indústria norte-americana, acabaram por produzir um efeito inverso: minaram a competitividade interna dos EUA e tiveram impacto limitado sobre o Brasil, cuja economia demonstrou elasticidade e capacidade de adaptação.
Entre as commodities redirecionadas e as indústrias que sofrem, o saldo é claro: a guerra comercial de Trump revela-se mais política do que econômica — e mais prejudicial aos Estados Unidos do que aos seus parceiros.