POEMA: “SONHO ou A PORTA DO TEMPO”

NUM DIA DE CHUVA,
Bateste levemente
À porta da minha
Memória,
Como quem chamava
Por mim,
Com aparente
 Empatia,
Soletrando
O meu nome
Em ritmo
De melodia
Com perfume
De jasmim.

ERA TRANSPARENTE,
A porta,
Reconheci
A tua boca,
O bâton púrpura
Dos teus lábios,
As linhas curvas
Do teu corpo...
E logo vi,
Com o olhar
Do desejo,
Que eras tu,
 Como se o visse
Despido,
Sensual, 
Tão inocentemente
Nu.

NÃO SEI SE
Me pressentiste,
Não sei,
A porta
Era um espelho
E através dela
Só se via
Do lado de cá,
Do lado
Da minha alma,
A que sempre
Te deseja,
Mas que nunca
Te terá.

ENTRASTE,
Por essa porta
Cheia de cor,
Que a chuva
Humedeceu,
Mas deixara-te
Com mais
Brilho...
...........
O da chuva
E o teu.

TAMBÉM TU
Eras transparente...
Olhei-te
E vi, em ti,
Um céu diferente
Que parecia
Oferecer-se
Ao desejo
Como nunca
Eu senti.

NA TRANSPARÊNCIA,
Despontou
O sol,
Subitamente,
Coado por
Neblina dourada
Que descia
Sobre mim
Pra que te visse
Brilhante,
Exaltada,
Com um brilho
De cetim.

ÀS VEZES,
O dourado
Ganhava tons de
Âmbar
E vestia-te 
O corpo nu
Na minha 
Intangível
Memória
Sempre quente...
.........
Como tu.

VIA COM NITIDEZ
Esse teu sorriso,
Belo
E cristalino,
Mas, quando te quis
Tocar,
Desceu
Sobre nós
Um vidro fino,
Baço e frio,
E eu verti
Lágrimas
De inconformada
Tristeza,
Filhas
De um profundo
Vazio.

AS LÁGRIMAS
Deslizaram
Pelo vidro
E tu tentaste
Agarrá-las
(Em vão)
Com todas
As cores
Que tinhas
Na palma
Da tua mão...

DE REPENTE,
Tornaste-te sol
E eu já só era
Um reflexo
(Eu bem sabia)
Dos teus
Raios filtrados
Por algumas
Nuvens brancas
Que iluminavam
A minha pobre
Fantasia.

MAS LOGO DESPERTEI.
Batera alguém
Levemente
À porta
Do meu quarto.
Corri a abri-la...
........
Ninguém!

REGRESSEI,
Rápido,
À minha memória
Para te reencontrar,
Mas tu já não
Estavas,
Sequer como reflexo,
A brilhar.

DEIXARA ABERTA
A porta do tempo,
Por onde tu
Desertaras,
Como sempre,
Pra parte incerta,
Para uma dessas ruas
Do destino
Que fica sempre
Deserta...

OS SONHOS
São sempre assim,
Tudo se esvai
Quando irrompe
A luz do dia,
Onde o sol
É o farol
Que sempre
Nos desperta
E nos aquece,
Mas também
Nos alumia.