Paulo Rangel, Ministro dos Negócios Estrangeiros, afirma com leveza que “não há motivo para alarmismo” e que os portugueses “sabem que há agora um crivo maior nas entradas do que havia antes”. Mas como pode não haver alarme, quando um cidadão português é detido num claro ato de xenofobia por um país que se diz aliado?
A promessa de apoio do Governo português só “caso seja preciso” é um insulto à dignidade nacional. Caso seja preciso? A detenção arbitrária de um cidadão com visto legal não é motivo suficiente para mobilizar todos os canais diplomáticos?
Trump, ele próprio descendente de imigrantes, representa agora a face de uma América que fecha portas a quem a construiu. E perante isso, Portugal... cala. Come e cala.
A cobardia vai além-fronteiras: a Comissão Europeia, segundo o Financial Times, distribuiu telemóveis descartáveis e computadores básicos aos seus representantes para evitar a espionagem em solo norte-americano — uma medida que revela desconfiança profunda. E mesmo assim, os comissários europeus, incluindo a portuguesa Maria Luís Albuquerque, alinham na narrativa da “desdramatização”.
Rangel, mais parecendo um funcionário submisso de Bruxelas do que um representante de Portugal, vangloria-se de estar “ao lado dos portugueses em situação vulnerável” — mas não move uma palha. Refugia-se em declarações ocidentais formatadas, evitando qualquer rutura com os EUA.
Que triste sina a nossa, ter um governo que se verga sempre que a crise é global. Que abdica da soberania sempre que os interesses das grandes potências estão em jogo. E que aceita, sem um gesto de indignação, a humilhação dos seus próprios cidadãos.
E que dizer da União Europeia? Submissa à América, arrogante com a Rússia, incapaz de manter uma postura digna, equidistante e verdadeiramente soberana. Quando será que a Europa aprenderá a levantar a voz a ambos?