No coração do Afeganistão, onde o governo talibã se apodera cada vez mais das liberdades das mulheres, surge uma voz que, embora silenciada pela força das armas, ressoa nos muros de uma nação ferida.

Shamsia Hassani, uma artista afegã, usa as suas obras para dar vida e visibilidade às mulheres que foram empurradas para a escuridão por leis que parecem saídas de um tempo em que o progresso e os direitos humanos não existiam.

Na semana passada, o governo talibã aprovou um conjunto de novas leis sob o pretexto de “promover a virtude e eliminar o vício”, segundo o próprio Ministério da Moralidade. Esta entidade, oficialmente denominada Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, é a mesma que agora impõe restrições aterradoras, como a proibição das mulheres falarem alto em público ou mostrarem o rosto fora de casa. Tais medidas foram prontamente ratificadas pelo líder supremo do país, Haibatullah Akhundzada, e fazem parte de um plano que a ONU já classificou como “preocupante” para o futuro do Afeganistão.

“Este é um retrocesso desolador para os direitos das mulheres e um sinal alarmante de um futuro marcado pela opressão”, afirmou um alto funcionário das Nações Unidas. As palavras são fortes, mas não menos trágicas que a realidade no terreno.

Shamsia Hassani, conhecida pelo seu trabalho de street art, transforma as paredes cinzentas de uma sociedade oprimida em telas que falam de resistência. As suas figuras femininas, muitas vezes sem rosto, parecem ecoar a própria condição das mulheres afegãs: sem voz, sem identidade, mas carregadas de uma força interior que o Talibã não consegue apagar. É a arte que desafia as sombras e o silêncio que lhes é imposto, sendo, talvez, uma das poucas formas de protesto que ainda restam.

No entanto, enquanto o ocidente desvia o olhar, absorvido pelo conflito eslavo que domina os noticiários, o grito de Hassani e de tantas outras mulheres afegãs parece ecoar no vazio. Este abandono, este desinteresse por uma nação cujas mulheres são sistematicamente silenciadas, representa não apenas uma falha moral, mas uma negação dos valores universais que deveriam unir as nações em defesa da dignidade humana.

As novas leis talibãs não são apenas uma questão interna de um regime autoritário; são um reflexo de um mundo que escolheu fechar os olhos, esquecendo que a igualdade e a liberdade de expressão não são privilégios ocidentais, mas direitos inalienáveis de todos os seres humanos.

Shamsia Hassani continua a sua luta, uma batalha silenciosa, mas que reverbera em cada uma das suas obras. Ela é a voz de milhões de mulheres afegãs que, apesar das tentativas de apagamento, ainda resistem, ainda vivem. E talvez, através da arte, a humanidade possa finalmente abrir os olhos e ouvir o seu grito.

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