Parte daí a capacidade (e a armadilha) do capitalismo em assimilar pautas sociais importantes, muitas vezes antagônicas ao sistema, tornando-as “nichos de mercado” (como o capitalismo verde, por exemplo).
Em um mundo cada vez mais virtualizado, essas tendências são disseminadas muito rapidamente, como um viral, fazendo com que padrões comportamentais sejam assimilados de forma acrítica. Somam-se a isso os algoritmos, que analisam esses padrões de comportamento para prever o que pode nos manter engajados, acabam potencializando esse processo. Maximizando o engajamento e exibindo cada vez mais conteúdos semelhantes aos que comumente consumimos, os algoritmos fortalecem a homogeneização dos padrões.
Um dos resultados desse fenômeno é uma certa inibição em ser diferente, em apresentar-se de acordo com os seus próprios gostos, forjados a partir de construções subjetivas importantes e que nada têm a ver com as tendências culturais em alta. Nessa dinâmica de criação de microidentidades prontas para uso, a visibilidade virou um fim em si mesma, achatando os gostos pessoais e as manifestações subjetivas em benefício de signos culturais massificados que, para favorecer o consumo, oferecem o “bônus” da falsa sensação de pertencimento.
De certo, o capitalismo contemporâneo e sua economia política neoliberal vêm engendrando mecanismos que, gradativamente, têm tentado minar o diferente. Nessa esteira, a promoção do individualismo não visa fortalecer a identidade subjetiva, e sim promover o sujeito performático, cujos recursos simbólicos culturais previamente assimilados servem para impulsionar sua performance dentro de grupos. O outro lado dessa mesma moeda é que, ao criar a falsa ideia de pertencimento, cria-se, também, a intolerância ao que vem de fora.
Na contramão desse empuxo à uniformização, estão aqueles que insistem em recusar as indicações dos streamings e redes sociais e se mantêm fiéis ao seu gosto pessoal, seja ele excêntrico, impopular ou démodé. Longe de ser um demérito daqueles que se negam a surfar nas ondas dos mesmismos e bancam sua diferença, ser autêntico e desuniforme tem se tornado um ato político. Reforçar a própria identidade não se trata apenas de um importante recurso simbólico de identificação subjetiva, mas também de um movimento de resistência aos imperativos capitalistas. Afinal, ser quem se é também é uma forma de resistência.
Carolina Rodrigues
Historiadora e Psicanalista