A insegurança rodoviária continua a ser um dos flagelos mais alarmantes da sociedade portuguesa. Em 2024, os números falam por si: mais de 270 mortes registadas nos primeiros sete meses do ano, com um aumento preocupante de 24% nas fatalidades dentro das localidades, quando comparado a 2019.

Estes dados, apresentados pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, deixam claro que não estamos a lidar apenas com estatísticas – estamos a lidar com vidas perdidas, famílias devastadas e comunidades afetadas por uma tragédia evitável.

Face a esta realidade, a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB) reafirma o seu compromisso com a segurança rodoviária, promovendo,  hoje às 12:30, dia 23 de dezembro, uma conferência de imprensa na Cordoaria Nacional, em Lisboa, para apresentar propostas concretas e exequíveis.

Um apelo à ação

"A sociedade civil não aceita prosseguir de lamento em lamento", sublinha a FPCUB, reforçando que a sinistralidade rodoviária, em especial dentro das localidades, resulta de fatores como o excesso de velocidade e a insuficiência de medidas de proteção para peões e ciclistas. Segundo José Manuel Caetano, presidente da FPCUB, "lamentar não resolve o problema", sendo urgente uma atuação concertada entre as entidades competentes, as autarquias e a comunidade.

Entre as medidas propostas, destacam-se:

- Investimento em redes cicláveis e na requalificação urbana do espaço público: Melhorar infraestruturas para garantir a segurança de ciclistas e peões.
- Revisão do Código da Estrada e reforço da fiscalização: Tornar as leis mais adequadas às necessidades atuais e assegurar o seu cumprimento efetivo.
- Criação de um Fundo Intermunicipal para a Segurança Rodoviária: Apoiar medidas locais e criar condições de proximidade para proteção dos utilizadores mais vulneráveis.
- Redesenho de zonas de sinistro: Identificar locais críticos e implementar estratégias de "Visão Zero", com o objetivo de eliminar fatalidades.

O peso dos números e o desafio da mudança

O relatório da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária aponta ainda para mais de 545.000 infrações por excesso de velocidade registadas em 2024, evidenciando a dimensão do problema. Para a FPCUB, a segurança rodoviária deve ser encarada como uma prioridade nacional, exigindo um "sobressalto cívico" e uma "consciência coletiva de que não é possível conviver com esta insegurança".

A proposta da Federação vai além da prevenção e do reforço legislativo. Pretende mobilizar todos os agentes envolvidos – do Governo às autarquias, passando por organizações da sociedade civil – para que se promova uma mudança estrutural, assente em ações práticas e numa visão de longo prazo.

A Conferência e o Caminho para a "Visão Zero"

O evento de dia 23 será uma oportunidade crucial para discutir estas propostas e reforçar a necessidade de um compromisso conjunto. Filipe Beja, co-presidente da FPCUB, conclui que “atingir a Visão Zero, onde nenhuma vida é perdida nas estradas, é uma ambição possível, mas exige investimento, coragem política e envolvimento de todos.”

Num país onde o trânsito já não é apenas um meio de deslocação, mas um espaço de conflito e risco, este apelo à segurança rodoviária destaca-se como um marco de responsabilidade e humanismo. A mudança começa agora, e a FPCUB convida todos a fazerem parte dela.