Atividade sísmica intensa abala uma das joias do turismo europeu

Santorini, a famosa ilha grega conhecida pelas suas paisagens deslumbrantes e hotéis luxuosos com vista para o mar Egeu, enfrenta um cenário de incerteza devido a uma intensa e prolongada atividade sísmica.

Desde 26 de janeiro, já foram registados mais de 10 mil abalos, que, embora não tenham causado vítimas ou danos materiais significativos, mergulharam a população e os turistas num clima de apreensão. A ilha encontra-se agora em estado de emergência, pelo menos até 3 de março, enquanto as autoridades procuram gerir as consequências desta crise.

Apesar dos alertas da comunidade científica, o governo grego, liderado pelo primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, afasta, para já, um cenário de catástrofe. Mitsotakis, em visita à ilha, assegurou que equipas de engenheiros estão a avaliar a sustentabilidade dos edifícios e que foram instalados mais sensores sísmicos para monitorizar a situação. No entanto, cientistas como Dimitris Papanikolaou, professor de geologia na Universidade de Atenas, alertam para a vulnerabilidade de Santorini, uma ilha que foi moldada por uma erupção vulcânica em 1600 a.C. e que sofreu um terramoto devastador em 1956.

Efthymios Lekkas, responsável pela Autoridade Grega de Planeamento e Proteção Sísmica, revelou que existem cinco áreas críticas sob risco de deslizamento de terras, incluindo o porto de Athinios, vital para o abastecimento e transporte de passageiros. “Estamos a analisar essas áreas para implementar medidas que reduzam a exposição ao perigo”, afirmou Lekkas.

Uma história de risco natural e descuido humano

Santorini encontra-se na fronteira entre duas placas tectónicas, uma das regiões mais propensas a sismos na Europa. O seu solo, de origem vulcânica, é macio e instável, o que agrava o risco em situações de abalos sísmicos. Desde a década de 1980, a ilha passou por um boom turístico, mas as preocupações ambientais e de segurança ficaram para segundo plano. Uma investigação realizada em 2021 já havia alertado para a necessidade urgente de inspeções às infraestruturas. Foi revelado que muitas construções não tinham licenças adequadas, com cerca de um quarto dos edifícios a serem operados por empresas de turismo.

A sobrelotação também é uma questão crítica. Em 2023, Santorini recebeu cerca de 3,4 milhões de turistas, um número impressionante para uma ilha com apenas 15 mil habitantes registados, embora se estime que a população real seja superior a 25 mil. Este fluxo massivo de visitantes tem causado problemas como a escassez de água e a pressão sobre os serviços locais.

Abandono temporário ou mudança permanente?

Nos últimos dias, mais de 12 mil pessoas, entre locais, trabalhadores e turistas, deixaram a ilha. As ligações marítimas e aéreas foram reforçadas para responder à crescente procura por saídas. Kostas Papazachos, professor de sismologia, adiantou que os tremores poderão continuar por mais duas ou três semanas, mas indicou que o epicentro parece ter-se deslocado para a ilha vizinha de Amorgos.

A questão que se coloca agora é até que ponto Santorini conseguirá recuperar desta crise. O turismo, pilar da economia local, está ameaçado, mas as autoridades sublinham que a prioridade é garantir a segurança dos residentes e visitantes.

Este episódio, contudo, poderá funcionar como um alerta para a necessidade de políticas mais responsáveis em regiões turísticas sujeitas a riscos naturais. À medida que a ciência aponta para possíveis desastres futuros, cresce a pressão sobre os governos para equilibrar o desenvolvimento económico com a proteção ambiental e a segurança pública.

Nota do Editor

Santorini simboliza, assim, um dilema vivido em muitos destinos turísticos globais: como preservar o património natural e humano perante a ameaça crescente das mudanças climáticas e dos fenómenos geológicos.
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