Portugal em 2022, tem uma media de 578,3 medicos por 100 mil habitantes número muito acima dos 405,8 por 100 mil habitantes da média comunitária.
O problema está quando se analisa o mesmo rácio apenas considerando os medicos no SNS e o caso muda de figura com somente 220,7 medicos por 100 mil habitantes no SNS ficando entao bem abaixo do valor de referência europeu.
Entre os 21 Estados-membros da União Europeia parceiros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal está no grupo dos dez que mais mal paga aos médicos das especialidades hospitalares desde 2006, data do início dos dados comparativos entre este grupo de países.
No mesmo período e tendo em conta o custo de vida nos diferentes Estados-membros, o salário dos médicos dos hospitais públicos portugueses foi ultrapassado pelo salário pago aos mesmos profissionais na Chéquia, na Estónia e na Hungria com Portugal na 6ª posição mais baixa, só acima da Grécia, da Eslováquia, da Polónia, da Lituânia e da Letónia.
Em valores absolutos, para 2020, os médicos especialistas em Portugal receberam em média €42.221 enquanto que na zona euro os mesmos profissionais em Espanha auferem €79,5 mil, na Itália €81,5 mil, e na França com €83,9 mil receberam o dobro dos colegas portugueses; na Finlândia €116,2 mil na Bélgica €116,7 mil e na Alemanha €146,2 mil aproximadamente três vezes o salário pago em Portugal; nos Países Baixos €160,9 mil e na Irlanda €172,9 mil o valor recebido foi quatro vezes o português.
Um outro indicador da OCDE é a relação entre o vencimento dos médicos especialistas e o salário médio praticado em cada país. Neste caso, o salário dos médicos especialistas hospitalares do SNS é 2,3 vezes o salário médio nacional enquanto que no Luxemburgo é 4,2 vezes o salário médio praticado no país.
Entretanto em cada quatro jovens médicos apresenta segundo a (des)ordem dos médicos sintomas graves de ‘burnout’ e 55,3% está em risco de desenvolver a síndrome, revela um estudo da Ordem dos Médicos.
O mesmo estudo dirigido especificamente a internos refere que 35,5% iniciou apoio psicológico ou psiquiátrico durante o internato.
Quase 65% dos internos inquiridos encontra-se num nível de exaustão emocional grave, 45,8% num nível elevado de despersonalização/desumanização e 48,1% apresenta elevada diminuição da realização profissional, adianta o estudo, realizado pelo Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI) hoje divulgado.
O objetivo do estudo, que decorreu entre agosto e setembro de 2023 e contou com 1.737 respostas (taxa de resposta de 16,9%), visou avaliar o ‘burnout’ nos internos e a sua associação com variáveis socioprofissionais.
Comparando com o último estudo feito em 2016, os internos têm uma prevalência de ‘burnout’ grave (24,7%) mais de três vezes superior aos restantes médicos (7%), e também têm níveis superiores equiparando com a média de estudos realizados noutros países (22,9%).
“Os médicos internos há mais tempo no internato, que consideram como mais desequilibrada a relação entre trabalho e vida pessoal, com menos autonomia no seu trabalho e que realizam mais horas extraordinárias apresentam níveis superiores de ‘burnout’”, salienta o estudo.
A percentagem de internos totalmente envolvidos no seu trabalho é de apenas 5,3%, uma percentagem cerca de quatro vezes inferior à de outros países.
Apenas 16,5% considera a relação entre a vida pessoal e profissional equilibrada.
Há maior percentagem de médicos com sintomas de ‘burnout’ na região Norte (28,6%), seguindo-se Lisboa e Vale do Tejo (23,7%) e Centro (22,1%).
É na especialidade de Anestesiologia que se encontram os níveis mais elevados (32,4%), seguida de Cirurgia Geral (29,7%), Medicina Interna (28,9%), Medicina Intensiva (26,2%) e Ginecologia/Obstetrícia (22,2%).
Segundo o estudo, 84,8% dos inquiridos realiza horas extraordinárias, com uma média de trabalho semanal de 52,8 horas, o equivalente a cerca de 2,5 meses de trabalho extra por ano.
Mais de metade (55,1%) faz turnos mensais com duração superior a 12 horas, 62,1% realiza trabalho noturno e 55,9% tinha dois ou menos fins de semana livres por mês.
A elevada carga horária associada ao trabalho e estudo autónomos e prossecução de objetivos curriculares foi o principal tema elencado na pergunta do questionário sobre condições laborais.
Em declarações à agência Lusa, o presidente do CNMI, José Durão, considerou os resultados deste primeiro estudo nacional “bastantes preocupantes”.
“Tínhamos a sensibilidade de que havia muitos internos com a sua saúde mental ameaçada, com muitos deles já a ter de recorrer ao psicólogo ou psiquiatra, ou mesmo a medicação, que acusavam muitas horas de trabalho, poucas horas de sono”, afirmou.
Porém, “não esperávamos descobrir que praticamente 25% (…) estivessem em ‘burnout’ severo”.
É pois tempo de saber olhar para as carreiras profissionais na administração central e local atendendo a vetores como o nível de stress na profissão e a relacao real profissional/ utente !
Joffre Justino
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