Há Russos no Alto Mar: Um Alerta Estratégico?

Nos últimos dias, o almirante Henrique Gouveia e Melo, atual chefe do Estado-Maior da Armada, informou que, num curto período de tempo, passaram por águas portuguesas vários navios russos.

A lista inclui três navios de guerra (duas fragatas e uma corveta), dois navios reabastecedores, três embarcações de pesquisa científica e, surpreendentemente, um navio dedicado à espionagem eletrónica. A ausência de detalhes sobre a proximidade da costa e a curta duração do período em que estas embarcações transitaram levantam questões de segurança e vigilância.

Trânsito Russo em Aumento

Em declarações este sábado na Base Naval do Alfeite, transmitidas pela CNN, Gouveia e Melo destacou o aumento da presença russa na zona marítima portuguesa. "Há um trânsito cada vez mais intenso de navios da Federação Russa, de Norte para Sul e de Sul para Norte", afirmou o almirante, sublinhando que até mesmo uma embarcação destinada a espionagem fez parte deste fluxo.

A situação, descrita como "atípica", é acompanhada de perto pela Marinha Portuguesa. "A nossa resposta a isso é segui-los, controlá-los, mantê-los sob pressão constante com a nossa presença igualmente constante", afirmou Gouveia e Melo. As declarações foram feitas durante a chegada ao Alfeite da fragata D. Francisco de Almeida, com uma guarnição de 167 militares, que recentemente participou numa missão da NATO.

A Vigilância Portuguesa e o Desinteresse Europeu

Apesar do reforço da vigilância marítima por parte da Marinha Portuguesa, este aumento de atividade russa nas águas nacionais levanta questões geopolíticas mais amplas. O almirante Gouveia e Melo procurou transmitir confiança nas capacidades nacionais, mas os movimentos da Federação Russa no Atlântico coincidem com o seu crescente poder de influência em África — um continente frequentemente negligenciado pela União Europeia e pelos seus principais Estados-membros, como França e Alemanha.

Enquanto a presença russa intensifica-se não só no mar, mas também em territórios africanos estratégicos, a Europa parece alheia às implicações deste avanço. Em Portugal, a questão ganha contornos particularmente delicados, dado o posicionamento estratégico do país no Atlântico e a proximidade com importantes rotas comerciais e militares.

Uma Reflexão Necessária

O alerta de Gouveia e Melo não deve ser subestimado. A crescente presença russa em águas nacionais não é apenas uma questão de vigilância militar, mas um reflexo de dinâmicas globais em mudança. À medida que o Atlântico se torna palco de disputas estratégicas, Portugal pode estar a desempenhar um papel crítico na segurança europeia — mesmo que esta, ironicamente, pareça pouco interessada em reconhecer o desafio.