A Tailândia lançou ontem ataques aéreos contra dois alvos militares no Camboja, anunciou o Exército do país, avançando que um dos seis caças F-16 que posicionaram ao longo da fronteira destruiu dois postos das Forças Armadas rivais.

Semanas de tensão por causa de uma disputa fronteiriça transformaram-se pois em confrontos que já mataram pelo menos onze civis. 

As autoridades tailandesas anunciaram o encerramento total de todas as passagens fronteiriças terrestres com o Camboja. "Utilizamos o poder aéreo contra

alvos militares, conforme planeado", disse o porta-voz adjunto do Exército tailandês, Richa Suksuwanon, aos jornalistas.

Os confrontos começaram ontem de manhã perto do disputado templo Ta Moan Thom, na fronteira entre o Camboja e a Tailândia, a cerca de 360 quilómetros a leste da capital tailandesa, Banguecoque, e os dois países acusam-se mutuamente de terem iniciado as hostilidades.

O Exército tailandês informou com um  comunicado que nove pessoas foram mortas em três províncias fronteiriças, incluindo uma criança, e que 14 ficaram feridas.

As forças do Camboja terão aberto fogo numa zona fronteiriça da província de Surin e o Exército da Tailândia afirma que seis soldados cambojanos estavam à porta de uma base de operações tailandesa “totalmente armados, incluindo com lança-mísseis".

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Tailândia disse que as tropas do Camboja dispararam "artilharia pesada" contra a base militar tailandesa na manhã de quinta-feira e também atingiram áreas civis, incluindo um hospital, causando vários feridos.

Segundo descreve a rede de televisão e radio difusão da Tailândia (TPBS), centenas de cidadãos tailandeses, incluindo crianças e idosos tentaram reforçar casas e abrigos com sacos de areia e pneus de carros na província fronteiriça de Surin. Por outro lado, o Ministério da Defesa do Camboja condenou a "agressão militar brutal da Tailândia e acrescentou que o país "não tem outra escolha senão usar o direito soberano e territorial para se defender da invasão do Exército tailandes".

Entretanto, a Embaixada da Tailândia no Camboja solicitou aos cidadãos tailandeses que abandonem o país após os confrontos entre os exércitos das duas nações.

O nível de segurança nas passagens fronteiriças foi elevado para 4- o máximo -, o que constitui um encerramento completo.

No meio do ressurgimento da histórica disputa territorial entre Banguecoque e Phnom Penh, o primeiro-ministro interino tailandês, Phum-tham Wechayachai, confirmou à

imprensa que foram disparados tiros numa área reivindicada por ambos.

Entretanto, o primeiro-ministro do Camboja, Hun Manet, solicitou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU. "Peço que convoque uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para pôr fim à agressão da Tailândia", referiu Hun Manet.

O Camboja e a Tailândia estão em conflito há mais de um século por causa de  um  traçado da fronteira de mais de 800 quilómetros, definida em grande parte por acordos celebrados durante a ocupação francesa da chamada "indochina", entre final do século XIX e m e a d o s do século XX.

Os confrontos entre os exércitos das nacões vizinhas decorrem um dia depois de um soldado o tailandês ter perdido a perna direita ao pisar uma mina terrestre em território fronteirico, em Ubon Ratchathani.

Este é o segundo incidente do género este mês, levando a Tailândia a retirar o seu embaixador no Camboja e a expulsar o embaixador cambojano em Banguecoque.

As autoridades tailandesas responsabilizam o Camboja pela instalação de minas terrestres em território tailandês, o que, segundo Banguecoque,

constitui uma violação da Convenção de Otava, o acordo internacional que proíbe o uso, o armazenamento, a produção e a transferência de minas terrestres antipessoais, segundo  a emissora pública Thai PBS.

A morte de um soldado cambojano em Maio intensificou o conflito. Desde este incidente, pelo qual os dois se culpam mutuamente, a Tailândia e o Camboja enviaram mais tropas para áreas  que ambos reivindicam.

Enquanto Banguecoque defende uma solução bilateral, Phnom Penh encaminhou a disputa para o Tribunal Internacional de Justiça, em Junho.

Desde essa altura, a Tailândia implementou restrições de acesso em todos os postos fronteiriços ao longo dos mais de 800 quilómetros de fronteira que partilha com o Camboja, permitindo a entrada apenas por motivos humanitários, de saúde ou educação.

Em 2011, confrontos em torno do templo Preah Vihear, classificado como património mundial pela Organização da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e reivindicado por ambos o s países, causaram pelo menos 28 mortos e dezenas de mi l hares de deslocados.

Embora o Tribunal Internacional de Justiça tenha atribuído ao Camboja, em 2013, a zona contestada abaixo do templo, outras áreas são ainda disputadas.

Colocando o conflito no contexto global atual  recordemos que da reforma política da monarquia absoluta em 1932, até hoje a Tailândia ja teve 17 constituiçõe e a forma de governo variou de ditadura militar para a democracia eleitoral, mas todos os governos reconheceram um monarca hereditário como o chefe de Estado.

Antes de 1932, o Reino de Sião não possuía uma legislação, com todos os poderes legislativos concentrados na pessoa do monarca e desde a fundação do Reino de Sucotai, no século XII.

O rei era visto como um darmaraja(literalmente: "rei que governa de acordo com o Darma", a lei budista de justiça).

Entre 1932 e 1973 a política do país foi dominada por ditaduras militares que estiveram no poder durante grande parte do período. As principais personalidades foram o ditador Luang Phibunsongkhram(mais conhecido como Phibun), que aliou o país com o Japão durante a Segunda Guerra Mundial, e o político civil Pridi Phanomyong, que fundou a Universidade Thammasate e foi brevemente o primeiro-ministro após a guerra.

A invasão japonesa da Tailândia ocorreu em 8 de dezembro de 1941.

Durante a Guerra do Vietnam, a Tailândia foi aliada dos Estados Unidos entre 1965 e 1971, estando presente com forças militares no Vietnam do Sul.

As Forças Armadas da Tailândia consistem no Exército Real Tailandês (กองทัพบกไทย), Força Aérea Real (กองทัพอากาศไทย) e Marinha Real (กองทัพเรือ, ราชนาวี).

Em 2014 as Forças Armadas da Tailândia tinham uma força de trabalho combinada de 306 mil pessoas em serviço ativo e mais de 245 mil em reserva.

Estas unidades compõem o poder terrestre (tanques), além de 573 no poder aéreo (aeronaves e porta-aviões) e 81 no poder naval (submarinos e ogivas nucleares), com um orçamento de defesa de 5,3 bilhões * US$.

A Tailandia é pois um dos aliados firmes dos Estados Unidos e um dos principais aliados externos da Nato. O país continua a ser um membro ativo da Associação de Nações do Sudeste Asiático(ASEAN), exercendo certa influência em sua região e desenvolvendo laços cada vez mais estreitos com outros membros da ASEAN, como a Indonésia, Malásia, Singapura, Brunei, Laos, Camboja, Mianmar e Vietnam cujos ministros externos e economicos realizam reuniões anuais.

A cooperação regional é mantida pelo país, em especial no que trata da economia, política e questões culturais. Em 2003, a Tailândia serviu como anfitriã da APEC. O ex-vice-primeiro-ministro tailandês, Supachai Panitchpakdi, foi Secretário-Ger al da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) entre 2005 e 2013, tendo sido o primeiro a exercer o cargo de origem leste-asiática. Em 2005, a Tailândia participou da inaugural da Cimeira do Leste Asiático.

Nos últimos anos, a Tailândia tem assumido um papel cada vez mais ativo no cenário internacional. Quando Timor-Leste conquistou a independência da Indonésia, a Tailândia, pela primeira vez em sua história, contribuiu enviando tropas para o esforço internacional de paz.

Ja o Camboja está nos antipodas  e é  um alinhado e com  relações muito fortes com a RPChina, sendo a RPChina seu principal parceiro comercial e fonte de investimentos, além de ser considerado um de seus aliados mais leais na Ásia. 

Relações do Cambodja com a RPbChina: 

  • Aliado Leal: O Camboja é um dos aliados mais leais de Pequim na Ásia.
  • Parceiro Comercial e Investimentos: A China é o principal parceiro comercial do Camboja e sua maior fonte de investimentos, com a China sendo credora de um terço da dívida externa do país.
  • Cooperação Bilateral: Houve um encontro recente entre líderes da China e do Camboja, destacando a amizade e os interesses comuns baseados no respeito à soberania.

Relações com os EUA: 

  • O Camboja foi alvo de tarifas impostas pelos EUA sob a administração de Donald Trump, embora algumas tenham sido suspensas posteriormente.
  • Há uma clara referência à necessidade de "opor-se com coragem às forças externas que interferem nos assuntos internos" em declarações que podem ser interpretadas como uma referência às pressões ou interferências externas, incluindo as relacionadas às relações comerciais com os EUA.

De qualquer forma as relações entre China e Tailândia evoluíram positivamente em 1978, quando os chineses continuaram apoiando a Tailândia durante o conflito interno do Camboja, pelo qual as forças marxistas do Vietnam derrubaram os  Khmer Vermelho do poder, que ameaçava a segurança do Sudeste asiático.

As relações continuaram a se desenvolver com o comércio entre chineses e tailandeses, já que a economia tornou-se o tema dominante nas relações bilaterais. A Tailândia continua a apoiar a política de uma só China, apesar de mantér relações oficiais com Taiwan.

A República Popular da China permite que a Tailândia tenha acesso ao capital e ao enorme mercado da China continental