Em plena pré-campanha, Ventura decidiu exibir cartazes com frases como “Isto não é o Bangladesh” e “Os ciganos têm de cumprir a lei”, expressões que, para qualquer espírito lúcido, extravasam o campo da opinião política para entrar no domínio da xenofobia e da discriminação racial. Apesar das reações de repúdio vindas da sociedade civil e de diversas organizações de direitos humanos, o Ministério Público e as autoridades competentes permanecem inertes.
Ventura defende-se com o argumento da “liberdade de expressão”, esquecendo — ou fingindo esquecer — que essa liberdade termina onde começa o discurso de ódio. A Constituição da República Portuguesa é clara: a liberdade de expressão não pode ser invocada para promover o racismo, o preconceito ou a discriminação. A jurisprudência europeia reforça o mesmo princípio. Nenhum direito é absoluto, e a democracia não é um escudo para o ódio.
O silêncio das instituições neste caso é ensurdecedor. Porque quando o Estado tolera o intolerável, abdica do seu papel de garante da justiça e do equilíbrio social. E quando as autoridades se refugiam na passividade, abrem a porta à normalização do extremismo e à degradação da convivência cívica.
Cumprir a lei é o primeiro passo para proteger a democracia. E é isso que se exige, urgentemente, ao Ministério Público, à Comissão Nacional de Eleições e às forças da ordem. Porque a verdadeira liberdade — a que honra Abril — é a que defende a dignidade de todos.
📢 Editorial Séc. XXI — Jornal pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade