Um estudo da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) revelou que a presença de espécies exóticas nos ecossistemas ribeirinhos está associada à degradação da qualidade ecológica dos rios, comprometendo a abundância e a presença de espécies nativas.

Os resultados desta investigação, conduzida por uma equipa internacional liderada por Maria João Feio, foram publicados na revista Journal of Environmental Management.

A presença de espécies exóticas e a qualidade dos rios

A investigação teve como objetivo analisar, a nível global, se os atuais índices de qualidade ecológica dos rios contemplam a presença de espécies exóticas, que não são nativas de uma região. Em Portugal, assim como noutros países da Comunidade Europeia e do mundo, utilizam-se índices baseados nas comunidades aquáticas de peixes, invertebrados, microalgas e plantas aquáticas como bioindicadores da qualidade ecológica. No entanto, segund Maria João Feio, muitos desses índices foram desenvolvidos numa época em que a presença de espécies invasoras era menos expressiva ou mesmo desconhecida.

O estudo identificou que as espécies exóticas têm um impacto significativo na biodiversidade aquática e, consequentemente, na qualidade dos ecossistemas ribeirinhos. Entre os grupos biológicos analisados, os peixes são as espécies exóticas mais reportadas, devido ao seu tamanho, valor comercial e conhecimento histórico das espécies nativas. Por outro lado, as microalgas exóticas são as menos conhecidas, seguidas dos invertebrados bentónicos.

Avaliação da qualidade dos rios em Portugal

No contexto português, o estudo evidencia que os índices de qualidade ecológica dos rios apresentam lacunas no que diz respeito à avaliação das espécies exóticas. O índice utilizado para as comunidades de peixes já inclui uma métrica específica que avalia a presença e abundância de espécies exóticas. No entanto, o índice aplicado às plantas aquáticas contempla apenas uma avaliação parcial destas espécies, enquanto o índice para os invertebrados não considera a presença de espécies exóticas. Isto pode levar a uma sobrevalorização da qualidade biológica dos rios.

Maria João Feio alerta que o impacto das espécies exóticas varia de acordo com o ecossistema, o que reforça a necessidade de atualização dos índices de monitorização para garantir uma avaliação precisa e fiável da qualidade ecológica dos rios portugueses.

Recomendações dos especialistas

Com base nos resultados do estudo, os especialistas apontam algumas recomendações para melhorar a monitorização e a gestão dos ecossistemas ribeirinhos:

  • Inclusão de métricas específicas para espécies exóticas nos índices de qualidade biológica.

  • Investimento na investigação da taxa de espécies exóticas em grupos de organismos aquáticos menos estudados, como microalgas e invertebrados.

  • Aposta na identificação taxonómica ao nível da espécie, de modo a reconhecer precocemente espécies exóticas nos programas de monitorização.

  • Promoção de comportamentos sustentáveis que previnam invasões aquáticas nos rios, através de campanhas de sensibilização junto das comunidades ribeirinhas.

O estudo sublinha a importância de uma abordagem multidisciplinar e de colaboração internacional para enfrentar os desafios colocados pelas espécies exóticas, garantindo a sustentabilidade e a qualidade dos ecossistemas ribeirinhos.

Para mais informações, o artigo científico intitulado "The impacts of alien species on river bioassessment" está disponível na revista Journal of Environmental Management.