Ladeado pelas vice-presidentes da bancada Regina Bastos, Andreia Neto e Isaura Morais, Hugo Soares recordou que, na altura, a pergunta foi sobre a descriminalização da IVG até às dez semanas, considerando que esta questão está "absolutamente consensualizada" na sociedade.
Por outro lado, o hoje primeiro-ministro, Luís Montenegro, comprometeu-se a não mexer, nesta legislatura, "em nenhuma lei que tivesse a ver com a IVG".
"Por isso, hoje, de forma absolutamente unânime e consensual, o Grupo Parlamentar do PSD decidiu votar contra todos os projetos que amanhã estão em discussão no Plenário da Assembleia da República", disse.
Questionado se não haveria liberdade de voto, como aconteceu em outras ocasiões quando o tema versava questões de consciência, respondeu: "Essa questão não foi sequer colocada em cima da mesa. Repito, a posição do PSD, de todo o seu Grupo Parlamentar, é unânime, coesa, como tem acontecido em todas as votações na Assembleia da República".
"A regra, como sabem, no Grupo Parlamentar do PSD é de disciplina de voto. Todos votaremos de acordo com a orientação da direção do Grupo Parlamentar, designadamente da minha orientação. Não tenho dúvida nenhuma que amanhã o Grupo Parlamentar do PSD votará unanimemente contra todos os projetos, e todos, é mesmo todos, todos, todos", assegurou.
Questionado se o facto de o PSD votar contra um diploma do CDS-PP, parceiro de coligação de Governo, não poderá abrir brechas nesse entendimento, o líder parlamentar do PSD respondeu negativamente.
"A Aliança Democrática está muito coesa, muito unida, com o foco na resolução dos problemas concretos da vida das pessoas e assim vamos continuar na governação do país. Todos, todos, todos, são mesmo todos, inclusivé esse", repetiu.
Hugo Soares recordou que o PS governou durante oito anos, "os primeiros quatro em maioria absoluta com a extrema-esquerda em Portugal, mais dois em maioria relativa mas com o apoio da extrema-esquerda e o último ano em maioria absoluta, com um poder absoluto no parlamento".
"Alguns dos senhores se recorda do PS ter apresentado o projeto que amanhã apresenta? Se calhar valeria a pena perguntar ao PS porque é que não o fez antes", disse.
Questionado se o PSD estará disponível para voltar a este tema numa próxima legislatura, o líder parlamentar do PSD disse que o partido está "muito concentrado em cumprir os 3,5 anos que faltam desta legislatura" e o seu programa eleitoral "até 2028".
O PS agendou para sexta-feira um debate no parlamento sobre o alargamento do prazo de acesso à interrupção voluntária da gravidez, após ter apresentado um projeto de lei em que defende o alargamento desse prazo para as 12 semanas, bem como iniciativas do PCP, BE, Livre e PAN sobre o mesmo tema.
Serão igualmente discutidos projetos de lei do CDS-PP, que densifica "o acesso à informação relevante das grávidas para a formação de uma decisão livre, consciente e responsável" e reforça "o regime do exercício do direito individual de objeção de consciência dos médicos e demais profissionais de saúde" e do Chega, pela "garantia de proteção à mulher grávida e ao nascituro em todas as fases e circunstâncias e o reforço da informação sobre redes de apoio e cuidados".
O Chega já anunciou o voto contra de todos os projetos da esquerda, pelo que todos os diplomas serão chumbados.
O Estrategizando nao resiste a lembrar Natalia Correia poetisa e deputada do PSD e o seu poema, o Coito!
Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.
(Natália Correia - 3 de Abril de 1982 )