Desde que esta governação tomou posse, o tráfico de influências e o jobs for the boys tornaram-se moeda corrente. As nomeações para cargos tecnicamente apartidários multiplicam-se como cogumelos após a chuva, enquanto a oposição, frágil e sem rumo, não consegue apresentar nem visão estratégica, nem um Dr. Mundinho que lhe empreste coragem. Restam, é certo, alguns quilombos dispersos — social e etnicamente diversos —, mas a resistência, embora valente, é ainda insuficiente.
E atenção: não faltam por aí outros coronéis Ramiros, noutras pradarias políticas, mas até esses começam a enfrentar revoltas. Este país não pode continuar refém dos monopólios dos coronéis do capital. Democracia pluralista e monopólios são como água e azeite: não se misturam.
É urgente um projeto. Uma estratégia. Um programa que seja, de uma vez por todas, anticorrupção, antimonopólios, e que honre — quem sabe? — até o legado de João Cravinho, aprovando legislação clara e intransigente contra os vícios do poder e a corrupção. É preciso escrutinar democraticamente o aparelho de justiça, acabar com os feudos dos coronéis, integrar as populações imigrantes na economia e na sociedade, e desenvolver políticas sociais concretas — saúde, habitação, educação de qualidade — que eduquem para a democracia e para a liberdade.
Esse programa não pode nascer de um gabinete fechado. Deve ser construído num grande Encontro para as Alternativas, um fórum nacional onde se discutam e aprovem as bases de uma governação a médio prazo. Não medidas avulsas para agradar a um ciclo eleitoral, não casos e casinhos, mas um projeto estrutural, nacional, que construa o futuro. Um país justo, democrático, moderno e desenvolvido não é um sonho — é uma obrigação, para tod@s!
Aos mais novos, que talvez não conheçam os paralelos históricos, sugiro a leitura de Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado. Lá entenderão a metáfora: Portugal, hoje, está outra vez nas mãos dos descendentes dos coronéis, com os jagunços e capitães do mato à espreita, prontos a erguer os seus feudos.
Se deixarmos.
Inté.
Francisco Colaço
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Imagem de destaque: A imagem criada é uma metáfora visual poderosa que traduz a crónica "Portugal, um Ilhéus Moderno", captando o espírito crítico e simbólico do texto de Francisco Colaço.
Justificação simbólica da imagem:
Portugal personificado:
A figura à esquerda, envolta na bandeira nacional como uma capa, representa Portugal como entidade coletiva — digna, mas em confronto. O rosto sério sugere tristeza, resistência e consciência crítica, como se estivesse a olhar para a realidade que o oprime.
Os “coronéis modernos”:
Os homens à direita vestem fato e gravata, remetendo aos "coronéis" atualizados da crónica — políticos e figuras do poder económico que, embora não usem uniforme militar, continuam a exercer influência opressiva. A estética militar dos bonés reforça essa ligação ao autoritarismo simbólico.
A caveira no centro:
A caveira entre os "coronéis" representa a morte simbólica da justiça, da ética e da democracia. Evoca a ideia de um sistema corrompido, desumanizado e caduco, onde o poder se mantém por meios intransparentes e nocivos. É também um alerta: a podridão está visível, se quisermos ver.
A composição oposta:
A disposição frente-a-frente evidencia o confronto entre um povo que desperta (Portugal) e os poderes instalados. A tensão está no olhar, no espaço entre os dois lados, que simboliza o fosso social e político.
A paleta quente e difusa:
As cores terracota e o fundo difuso remetem à terra seca, à luta antiga e contínua por justiça — e fazem eco da estética de “Gabriela, Cravo e Canela”, cuja narrativa sobre os coronéis no Brasil inspira a metáfora usada no texto.
Conclusão:
A imagem é um manifesto visual. Convida à reflexão sobre quem realmente governa, à necessidade de vigilância democrática e à urgência de romper com os monopólios do poder, tal como proposto no texto original. Um retrato simbólico do “país refém dos coronéis”, com um apelo implícito à ação.