"Estamos perto do acordar, quando sonhamos que sonhamos"
(Wir sind dem Aufwachen nah, wenn wir träumen, dass wir träumen)
Novalis

POEMA – “O SONHO”

SONHEI,
Um sonho estranho
(Não sei porquê,
Mas os sonhos
São assim),
Que numa tarde
De outono
Eu te vi,
Silenciosa,
Etérea,
Ali,
A meu lado,
Sob o loureiro
Do meu Jardim
Encantado.

NÃO ERA RUBRO
De vida cheia
O teu rosto,
Olhar incerto
Em forma pura,
Retrato
Em papel baço
Ou escultura...
.............
De travertino,
Distante
Destes versos
Que na alma
São reversos
De um sofrido
Destino.

E EU ALI,
Nesse jardim
Espectral,
A sofrer-te
Em suave
Melancolia
Por só poder
Pressentir
Em palavras
A tua alma,
Talvez em fuga,
Talvez vazia.

ROSTO
Impenetrável
Que só ouvia
Interiormente
No que, afinal
Não dizia,
Intermitente,
Mudez gélida
Como o mármore
Do teu rosto
Em travertino,
Olhar vago
À procura
Não sei de quê,
Talvez de nada
Ou das marcas
Do destino.

PRESSENTIA-TE
Sem ouvir
A tua voz.
Era apenas
Desejo
Onírico
De alma
Vagante
E uma silhueta,
Talvez errante,
Em tarde
Já tardia
Na espessa
Neblina
Que me cobria.

DE TI
Sobrou-me
Um rosto,
Tudo aquilo 
Que me resta
Pra te sonhar
Neste intervalo
Tardio
Entre mim
E a tua vida,
Um eterno
Desencontro
Já gravado
Como ferida.

ESSE PERFIL
Marmóreo
Prenunciava
Um glacial
Silêncio que,
 Ao acordar,
Me há-de
Emudecer,
Tornando-me
Máscara gémea
Desenhada
Com palavras
Que eu nunca
Encontrarei,
Por te perder...
O rasto
E os olhos
Negros,
Esses
Que sempre
Para ti
Eu celebrei
Porque sempre
Te quis ter.