POEMAS DA RESISTÊNCIA – FÁTIMA AHMAD

Por Paulo Martins, Editor Cultural

 

Continuamos hoje com a publicação de mais dois poemas sobre a resistência palestiniana, dessa vez contemplando a poeta Fátima Ahmad.

É mais uma homenagem que fazemos à jovem poeta feminista palestina Heba Abu Naba, de 32 anos, morta num bombardeio israelense sobre a cidade de Khan Yunis, na Faixa de Gaza e que se tornou um símbolo da luta daquele povo.  A poesia palestiniana continua ganhando impulso, com uma crescente admiração de poetas, escritores e artistas das mais diversas regiões e línguas, que continuam produzindo obras que expressam ora solidariedade, ora participação indireta na luta de resistência. A temática da liberdade é particularmente grata a todos os poetas, particularmente depois que Paul Éluard escreveu seu famoso poema Líberté, que teve importante papel na resistência francesa contra o nazismo. Os poetas palestinianos estão na linha de frente do combate à tirania, ao massacre e ao genocídio. A divulgação de suas poesias é indispensável como elemento de luta e de resistência contra a opressão no mundo inteiro.

 

Começamos com o poema Nós ensinamos a vida, senhor, da poeta palestiniana Rafeef Ziadeh, publicado originalmente no blog pontovirgulina e o poema inédito de minha autoria, ESCREVE UM POEMA, PALESTINIANO. Na última edição dessa série, trouxemos a público o poema  PARA A MORTE. QUANDO A MORTE VIROU SÍMBOLO NESTA CIDADE? da também poeta palestiniana Amal Abulkamar. Em seguida publicamos o poema JOGUINHO, da poeta e escritora palestiniana Muna Amassdar. Hoje publicaremos os poemas O CALOR DA LUA e PRANTO EM MODO CLÁSSICO PELA TERRA PALESTINA (excetos), de Fátima Ahmad.

 

Tais poemas foram retirados do livro GAZA, TERRA DA POESIA (Editora Tabla, 2022), editada em árabe em 2021, no Líbano, pelo poeta Mohammad Taysir, e posteriormente traduzido para o português pelo Grupo de Tradução de Poesia Árabe Contemporânea (gtpac), da USP, coordenado por Michel Sleiman. Por sua vez, o poeta baiano Carlos Machado pinçou cinco dos melhores poetas desta coletânea e publicou poemas selecionados de cada um deles no seu blog POESIA.NET, de onde pescamos a presente publicação.

 

O CALOR DA LUA

(...)

Aqui as ideias nascem livres em torno das flores de romã
e nas celas a ideia é enterrada viva.
Aqui em todo canto há um carcereiro
que come os ossos dos jovens e suas vidas
e até as tranças de suas amadas!
Que valor tem a palavra...
se tudo aqui está debaixo dos sapatos do algoz?
Levante-se, Handala,
não vire as costas, não cruze as mãos atrás,
seja nosso rosto novo.

PRANTO EM MODO CLÁSSICO PELA TERRA PALESTINA

Eu vou porque o cheiro da terra ainda me chama,
com toda minha determinação eu vou.
Não vou parar, não vou olhar para trás,
as sombras das vinhas me esperam, não vou olhar para trás,
o cheiro do café fervido ainda está lá, para onde eu vou,
ouço os ecos do arghul me chamando
e, dentro de mim, os poemas dos camponeses no tempo das colheitas.
Como é frágil a vida quando vivemos os poemas no estranhamento,
quando só o que nos separa deles é o cercado que rodeia nossas nuvens,
nossa terra, nosso céu, nossa chuva.



Eu vou para minha aldeia na Palestina.
Ela sente minha falta e eu sinto falta dela.
É um amor nato e latente,
é um fogo que não apaga.
Bissan, Alkármil, Yafa e Safad,
Alquds, Aljalil e Annássira,
deixem-me sofrer, ó cidades,
não chorem por mim, ó cidades,
talvez um dia as lágrimas ganhem asas!

 

Tradução de Maria Carolina Gonçalves