Este artigo explora como essas predisposições moldam a aceitação das narrativas políticas, frequentemente levando-nos a aceitar apenas aquilo que se alinha com as nossas crenças preexistentes.
Os preconceitos cognitivos desempenham um papel crucial na forma como processamos informações e tomamos decisões. Daniel Kahneman e Amos Tversky, pioneiros no estudo da tomada de decisão sob incerteza, demonstraram como as heurísticas e os vieses afetam as nossas escolhas diárias, incluindo as nossas posições políticas. O "viés de confirmação", por exemplo, leva indivíduos a favorecer informações que confirmam as suas crenças preexistentes, ignorando dados que as contradizem.
A memória não é um arquivo fiel do passado, mas sim uma construção que é constantemente reescrita e adaptada. Elizabeth F. Loftus, uma renomada psicóloga, ilustrou nas suas pesquisas como as memórias podem ser influenciadas e alteradas por informações posteriores, um fenômeno conhecido como "efeito de informação deturpante". No contexto político, isso significa que a nossa memória dos eventos pode ser distorcida por narrativas dominantes, impactando diretamente a nossa interpretação de novos eventos e informações.
Entender a interação entre percepção e realidade ajuda-nos a compreender por que as pessoas muitas vezes rejeitam informações que contradizem as suas visões prévias. Este fenômeno não é apenas um reflexo de uma falha cognitiva individual, mas uma característica intrínseca ao modo como as nossas mentes funcionam.
Reconhecer e confrontar os nossos próprios preconceitos e a memória seletiva é essencial para uma abordagem mais crítica e aberta às questões políticas, promovendo um diálogo mais construtivo e menos polarizado na esfera pública.
Morgado Jr.
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Foto de destaque: IA; imagem que ilustra o tema "Percepção Versus Realidade" em narrativas políticas. A cena mostra uma pessoa entre dois espelhos grandes que refletem cenas diferentes de comícios políticos, simbolizando o desafio de discernir a verdade entre informações conflitantes.