O socialista acentua, "Nesta campanha em particular, nós não podemos também ignorar o que é que nos trouxe ela. Mas eu acho que é possível fazer uma campanha com elevação, sem deixar de falar de um tema que é muito importante, que é o da ética e da transparência no exercício dos cargos públicos. Portanto, esse é um tema que, não tendo de ser central ou de ocupar todo o espaço, é um tema importante, porque foi, aliás, esse tema que nos faz ir para eleições."
Pedro Nuno Santos considera que, caso os socialistas tivessem viabilizado a moção de confiança, estariam condicionados na discussão do Orçamento do Estado para 2026.
E acentuou varias vezes dada as teimosias do entrevistador, “Não foi o Partido Socialista que precipitou o país numa crise. Como é que nós chegaríamos a outubro, quando depois de darmos um voto de confiança, continuar-nos-iam a pedir esse voto de confiança no Governo?", e reafirma que a culpa da crise política é de Luís Montenegro.
Volta entao a explicar que os socialistas não poderiam votar a favor da moção de confiança “Se em janeiro deste ano nunca poderia viabilizar uma moção de confiança, porque não estava comprometido com a governação, nem queria estar comprometido com a governação, muito menos depois do que aconteceu nestas últimas três semanas. O primeiro-ministro decidiu que queria apresentar uma moção de confiança que sabia de antemão que seria chumbada e, portanto, não deve ser assacada ao Partido Socialista a responsabilidade que, na realidade, é só de uma pessoa", explica o líder do PS.
Pedro Nuno Santos sobre a candidatura de Henrique Gouveia e Melo às presidenciais do próximo ano que vai passar a ser um político e continua a nao dizer quem o PS apoiará!
"Eu não consigo aceitar essa ideia, porque eu não percebo sequer porque é que o almirante possa beneficiar de uma crise política. A partir do momento que decide ser candidato a Presidente da República está a decidir ser político. Depois, não há democracia parlamentar em nenhum país do mundo que se faça sem partidos políticos e é muito importante e, apesar de nós não desejarmos eleições, ainda bem que nós vivemos num país que pode resolver uma crise política com recurso a um ato eleitoral. Isso é uma grande vitória que os portugueses conseguiram há 50 anos que nós não poder (...) Eu espero bem que não beneficie o almirante, que obviamente não é o candidato do apoiado pelo Partido Socialista", afirma.
Pedro Nuno Santos explica que perante o facto do primeiro-ministro, Luís Montenegro, ter sido incapaz de resolver as dúvidas quanto às historias da sua empresa familiar que o PS decidiu avançar para uma comissão parlamentar de inquérito.
Pedro Nuno Santos considera que o PS acreditava que o primeiro-ministro iria dar as explicações devidas, mas que a partir de duas moções de censura não haveria por parte de Luís Montenegro as explicações cabais e que, a partir de determinado momento, percebeu que apenas uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) iria dar os instrumentos que permitiriam obter essas informações e dissipar dúvidas.
"A partir de determinado momento, nós precisávamos mais do que a mera resposta a perguntas orais ou escritas, precisávamos de prova documental, precisávamos de poder inquirir testemunhas", lembrou o líder socialista apontando que essa perceção aconteceu não apenas no que respeitou à questões deixadas pelo PS, mas também pelos outros partidos.
Pedro Nuno Santos defendeu que, "neste caso, a vida privada e profissional cruza-se com a atividade política de primeiro-ministro e era fundamental perceber a natureza da empresa e a influência do primeiro-ministro naquela empresa e o potencial de conflitos de interesse (...) dúvidas que existiam na sociedade portuguesa e em todos os analistas" e so uma CPI permitiria essa inquirição, o líder socialista acrescentou que, "ao contrário do que se diz não era abrir um precedente, no caso da CPI ao caso das gémeas, atingia direta ou indiretamente o presidente da República".
Na moção de confiança, Pedro Nuno Santos afirmou desde logo que era impossível para os socialistas viabilizarem, fosse através do voto a favor, fosse através da abstenção “Se fosse em janeiro e fosse apresentada uma moção de confiança por parte do Governo, nós também a chumbaríamos", declarou, explicando que esse voto significaria "um grau de compromisso com a governação que o PS nunca poderia ter", porque "o PS é um partido de oposição".
"O que aconteceu nas últimas semanas foi o acrescentar de razões para chumbar, não diminuir essas razões" e isso foi explicado ao primeiro-ministro, que iria chumbar e "o PS nunca pediu" uma moção de confiança.
A questao da estabilidade política não deve ser colocada aos socialistas, já que o PS "foi o partido que contribuiu de forma ativa para a estabilidade política no último ano". "Nós permitimos a investidura do Governo quando votámos contra a moção de rejeição do programa de Governo, permitimos a eleição do presidente da Assembleia da República, viabilizámos o Orçamento do estado e chumbámos duas moções de rejeição", assim, “Estamos em crise política por causa de uma pessoa", disse firmemente o líder socialista, para apontar ao primeiro-ministro, que considera ter-se esquivado às explicações devidas.
À questão sobre se teria havido alguma conversa com Luís Montenegro antes do debate e votação da moção de confiança, Pedro Nuno Santos respondeu negativamente, que considerou ter sido "um espetáculo degradante".
Pedro Nuno Santos lamentou ainda que o PS esteja a ser questionado sobre a narrativa de que foram dez dias a inviabilizar a CPI: "Na realidade, essa pergunta deve ser feita ao primeiro-ministro", pois, “Não há memória de um inquirido condicionar ou determinar os prazos de uma CPI", disse, para acrescentar que não faria sentido "o presidente da República condicionar a comissão parlamentar ao caso das gémeas (...) ou Ricardo salgado a determinar os prazos da comissão parlamentar ao BES".
"O Governo quis usar a moção de confiança para condicionar a CPI", acusou.
Ainda sobre a necessidade de evitar a crise política, Pedro Nuno Santos disse que o PS tentou que houvesse uma reunião com o Governo e que teve contactos com o presidente da República e recusa responsabilidades partilhadas com o Executivo para o desencadear da crise.
A razão para exigir a CPI tem a ver com a inexistência de clarificações de Luís Montenegro mas nega ter informações de alguma coisa que o primeiro-ministro esteja a esconder.
Sobre o caso da empresa do seu pai, Pedro Nuno Santos rejeita que, sendo um dia eleito primeiro-ministro, venha a ser questionado com dúvidas semelhantes às que enfrenta o atual chefe do Governo.
Lembrando que algumas questões já foram colocadas quando era ministro das Infraestruturas, o líder da oposição acrescentou que o caso seria completamente diferente, já que "não podemos fazer de conta que estamos a falar da mesma coisa, a empresa é do meu pai, não sou sócio dele, não é da minha mulher, do meu filho, eu não controlo nem a paternidade nem a empresa para a qual não arranjei um único cliente".
No caso de negócios dessa empresa com o Estado, Pedro Nuno santos considera que "isso a lei clarifica. A lei resolve esses riscos de incompatibilidade ou dúvida".
Essa suspeição foi lançada enquanto era ministro - lembrou - e o Tribunal Constitucional esclareceu, considerou Pedro Nuno Santos, lembrando que no caso de Luís Montenegro a empresa era sua e os clientes eram mantidos devido a ele, agora primeiro-ministro.
Questionado sobre a declaração de voto do ex-ministro das Finanças, Fernando Medina, o líder do PS salientou que o partido é “aberto” e que os militantes expressam “a sua opinião livremente”.
Pedro Nuno Santos assegurou no entanto que a forma como o PS geriu este processo partiu de uma decisão “consensual”, mas que a opinião de Medina é “respeitável”.
Outro dos temas desta entrevista foi a Operação Marquês, que esta segunda-feira voltou às primeiras páginas com a marcação do início do julgamento. Pedro Nuno Santos recusou-se a fazer comparações entre José Sócrates e Luís Montenegro. “Não me vou pronunciar. (…) As realidades são diferentes e não vou fazer nenhum juízo de comparação”, vincou.
Recusou ainda que tenha faltado crítica ao seu partido e insistiu que o PS “já resolveu esse tema”. De resto, advoga que o partido “não tem medo de olhar para o que fez” e destaca, a título de exemplo, que “não correu tudo bem” no último Governo do PS.
Questionado sobre a necessidade de separação entre política e justiça, Pedro Nuno Santos refere que esse é “um pilar fundamental” e que o PS não se imiscui no trabalho da justiça. Argumenta ainda que uma comissão parlamentar de inquérito é “um instrumento do Parlamento”.
O secretário-geral do PS não se quis alongar nos cenários pós-eleitorais, mas disse que espera reciprocidade por parte do PSD em caso de vitória do PS, mesmo com uma maioria relativa.
“O PSD também governou sem uma maioria de direita”, afirmou perante a possibilidade de haver um resultado eleitoral que não permita formar uma maioria de esquerda.
É essa a atitude que espera por parte da oposição, apesar do deteriorar do discurso entre os líderes.
Pedro Nuno Santos garante, no entanto, que continua a ter “uma relação institucional” com o primeiro-ministro e recusa ver o combate político ou a exigência de transparência como “um problema”.
Questionado sobre uma eventual vitória da AD nestas eleições, Pedro Nuno Santos foi perentório: “Só trabalho num cenário de vitória”, vincou, insistindo que o PS “tem fortes possibilidades de ganhar estas eleições”.
Uma vez que passou apenas um ano desde a última eleição, Pedro Nuno Santos assume que o PS irá apresentar ao país “uma atualização” desse mesmo programa com “novas propostas.”
“Mas obviamente não vamos deitar ao lixo o programa”, admitiu perante o tempo curto entre eleições que não permitiu os Estados Gerais que pretendia levar a cabo.
Pedro Nuno Santos elencou as três áreas prioritárias para o PS neste campanha: economia, saúde e habitação. Em relação à saúde, o líder socialista considera que o processo das cinco parcerias público-privadas anunciadas pelo Governo não foi “implementado”.
Foi apenas “uma fuga para a frente” e um “anúncio panfletário” ainda sem qualquer aplicação. No entanto, garante que não há no PS “nenhum dogma” com PPP’s.
Garantiu por fim o compromisso por parte do PS em atingir os 2 por cento do PIB de gastos em Defesa, sem referir no entanto de onde será retirado o investimento em falta.
Pedro Nuno Santos realça que “não existe nenhuma dificuldade orçamental por cumprir” mas que o investimento em Defesa não pode colocar em causa o Estado Social.
“Temos de conseguir equilibrar e garantir que não há recuos em matéria social”, vincou, destacando a necessidade de um investimento em defesa que beneficie a Economia
Por fim, sobre as eleições presidenciais que se realizam no próximo ano, Pedro Nuno Santos adianta: “Continuamos à espera da disponibilidade dos diferentes candidatos da área do PS”.
“Não estou à espera de ninguém em particular”, afiança, quando questionado sobre a eventual candidatura de António Vitorino.
O líder do PS recusa-se a reconhecer que a atual crise possa beneficiar a candidatura de Gouveia e Melo, que tem um maior distanciamento dos partidos políticos.
“Não é político a partir do momento em que decide ser candidato à presidência da República?”, remata o secretário-geral socialista, reiterando ainda que os partidos são essenciais à democracia parlamentar.
Pedro Nuno Santos desdramatizou ainda esta ida a eleições e eventuais culpas que o eleitorado possa atribuir aos políticos pela situação atual. “Ainda bem que vivemos num país que pode resolver uma crise política com eleições”, reiterando que essa é uma conquista do 25 de Abril.