Na ausência de uma resposta oficial do governo chinês às tarifas trumpistas, que já atingem uns suculentos 104%, os media estatais da República Popular da China (RPChina) não perderam tempo.

Em vez de conferências de imprensa tensas ou ameaças veladas, optaram por algo bem mais refinado: zombarias virais nas redes sociais.

A mais célebre até ao momento? Uma hashtag lançada pela emissora estatal CCTV na plataforma Weibo:
“Os EUA estão a travar uma guerra comercial enquanto pedem mais ovos.”

Sim, leu bem. O drama económico global reduziu-se ao mais básico dos ingredientes do pequeno-almoço americano.

Ovos: símbolo do império em crise?

A ironia é certeira. Os EUA, campeões da guerra tarifária, recorreram discretamente aos seus aliados para... importar mais ovos, após uma devastadora vaga de gripe aviária. E em tempos de inflação galopante — aquela que Trump jurou travar — os preços dos ovos tornaram-se bandeira eleitoral.

Ou, como escreveu um utilizador no Weibo, com o sarcasmo típico de um sábio de sofá global:
"Dar um tiro no próprio pé pode ser considerado uma retribuição. Não só os ovos são caros, mas também alimentos, roupas e outras necessidades diárias."

Outro foi mais direto ao ego americano:
"Haha, um país tão grande nem tem os ovos mais básicos."
(A tradução é literal, mas o duplo sentido é universal.)

Tarifas: O “All You Can Tax” do século XXI

Enquanto isso, Trump continua a distribuir tarifas como se fosse a Oprah dos impostos aduaneiros. “Tu tens 104%! Tu tens 24%! Tu tens 15%! Toda a gente leva uma tarifa!”

Japão, Coreia do Sul, União Europeia — ninguém escapa. É um autêntico “All You Can Tax”, mas sem buffet no final. Apenas cadeiras vazias nas mesas de negociação e fábricas a fecharem em silêncio.

Richard Quest, da CNN, chamou-lhe “vandalismo económico”. John Bolton, nada suspeito de simpatias progressistas, acusou o ex-presidente de “analfabetismo económico”. E os mercados? Esses comportaram-se como se uma nova pandemia tivesse começado — e sem vacina à vista.

Confiança: o ingrediente secreto do mercado

Mais do que ovos, o que realmente está em falta nos EUA é a confiança. A base invisível da economia de mercado — essa que não se imprime nem se importa — está a esfarelar-se como uma omelete mal feita.

Confiança dos aliados, que veem nas ações de Washington uma roleta russa comercial. Confiança dos investidores, que não sabem se constroem fábricas ou cavam bunkers. Confiança dos cidadãos, que descobrem que o slogan “Make America Great Again” pode vir com sobretaxa.

Como resumiu John Bolton com amarga clareza:
“Décadas de relações de confiança e previsibilidade estão a ser destruídas... e os chineses estão a aplaudir.”

O marketing geopolítico pode sair caro

Esta guerra comercial está a revelar-se um extraordinário golpe... de marketing. Sim, o nacionalismo económico pode render votos e soundbites inflamados. Mas a conta, como sempre, virá no fim.

E se depender dos memes chineses, os EUA vão pagar com juros — e sem direito a troco em ovos.


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