Por Guilherme Bitencourt
O Wilon, o reino mais próximo da Terra, nos conecta à proximidade do divino em nosso mundo material. O Rakia, o lugar que prende os planetas, revela a estrutura e a interconexão cósmica. O Shehaqim, o local para a produção do maná, alimento sagrado dos anjos, simboliza a nutrição espiritual e a celebração da divina providência. No Zebul, encontramos a Jerusalém celestial, o Templo e o Altar, uma representação do sagrado em nossa existência terrena. O Ma'on, a residência dos anjos de nível inferior e do Coro Enunciador de Canções, evoca a música celestial e a presença de seres intermediários. O Makon, originador das provações e visitas ordenadas para a terra e seus habitantes, nos convida à reflexão sobre o propósito e a evolução espiritual. Finalmente, o Araboth, o lugar supremo de Direito, Julgamento, Retidão e o trono de Deus, é o ápice da compreensão da justiça divina.
Essa rica narrativa transcende o judaísmo e ressoa em outras tradições. No Mandeísmo, uma tradição espiritual menos conhecida, os Sete Céus também desempenham um papel importante. Esses céus são vistos como diferentes níveis ou regiões do reino celestial, cada um com seu próprio significado espiritual e importância na cosmologia mandeísta. A jornada espiritual nas crenças mandeístas é semelhante, com as almas atravessando esses céus em sua busca pela evolução espiritual e união com o divino. O primeiro céu é o Rishê, que é considerado o mais próximo da Terra. Ele é associado à água doce, simbolizando a pureza. Este céu é habitado por seres espirituais e é o lugar de repouso para as almas após a morte. O segundo céu, o Mandilê, é uma região associada à luz e à luminosidade. Neste céu, a alma passa por um julgamento onde é purificada de suas imperfeições e preparada para os níveis superiores. O terceiro céu, Ziwalê, é um lugar de beleza espiritual. É um local onde as almas são purificadas e preparadas para ascender a níveis mais elevados. O quarto céu, Nabu, é frequentemente associado à sabedoria e ao conhecimento. Neste céu, as almas continuam a se aperfeiçoar e adquirir mais sabedoria. O quinto céu, Nur, é associado à luz divina. É um lugar de crescimento espiritual e iluminação. O sexto céu, Misnadê, é um reino de grande esplendor e é frequentemente visto como uma preparação para o sétimo céu.O sétimo céu, Kênê, é o mais alto na hierarquia dos Sete Céus. É o lugar de mais alta iluminação e proximidade com o Deus supremo (Chaos). A alma, após passar por todos esses níveis, finalmente alcança a união completa com Deus.
Cada um desses Sete Céus representa uma etapa na jornada espiritual das almas, onde elas são purificadas, iluminadas e eventualmente se unem à fonte divina. A crença nos Sete Céus é uma parte essencial da cosmologia mandeísta e influencia as práticas espirituais e a compreensão da vida após a morte dentro dessa religião.
No Novo Testamento, encontramos pistas misteriosas sobre os Sete Céus. A Segunda Epístola aos Coríntios 12:2, nos transporta para o "terceiro céu", uma experiência espiritual profunda vivenciada por Paulo. Esta não é uma referência física, mas simbólica, onde o espírito de Paulo é "arrebatado", sugerindo uma ligação com um estado elevado de consciência. Hebreus 7:26 nos traz Cristo "Exaltado Acima dos Céus", um sinal de sua transcendência e ligação com planos divinos. Assim, os Sete Céus assumem um significado mais abstrato, uma metáfora para estados espirituais e conexão com a divindade.
O bispo cristão do segundo século, Santo Irineu de Lyon, reforça essa ideia, conectando os Sete Céus com os sete dons do espírito de Isaías. Esses dons, que incluem sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, conhecimento, piedade e temor do Senhor, enriquecem a visão cristã sobre os céus, representando virtudes e qualidades a serem alcançadas.
Na tradição islâmica, o entendimento dos Sete Céus é multifacetado. Cada céu é uma morada com um propósito divino, oferecendo um vislumbre das diferentes faces do Criador. O Dar al-Jalal, "Morada da Grandeza", celebra a majestade divina e a glória de Deus. O Dar as-Salam, "Morada da Paz", é um refúgio de tranquilidade e ausência de problemas. Al-Khuld, "Eternidade", promete uma morada permanente, onde a vida transcende o efêmero. Al-Ma'wa, "Refúgio" ou "Lugar de Retorno", sugere uma residência para os crentes, uma promessa de acolhimento e pertencimento. O Al-Adn, o "Paraíso", recompensa os justos com prazeres e bênçãos divinas, enquanto o Al-Firdaws, o "Paraíso" supremo, aguarda os mais virtuosos e piedosos.
Na Fé Bahá'í, as referências aos Sete Céus assumem uma dimensão simbólica. Bahá'u'lláh, em seus escritos, nos convida a perceber esses céus como estados de ser, portas de acesso à verdade divina e à luz interior. O mundo celestial é a "estação suprema e sede do Sol da Verdade", como declarado por Abdu'l-Bahá, um estado de perfeição e iluminação. Os Sete Vales, conforme delineados por Bahá'u'lláh, oferecem uma jornada espiritual através de sete estágios, desde a busca pela pureza do coração até a transcendência do ser na Verdadeira Pobreza e Inexistência Absoluta.
Essa visão dos Sete Céus nos desafia a buscar a excelência espiritual, transcendendo os limites da materialidade e do ego. Tanto nas Escrituras Anteriores ao Advento da Fé Bahá'í quanto na Perspectiva Bahá'í, a busca pelos Sete Céus nos convida a elevar nossa consciência, purificar nossas vidas e refletir a luz do Criador. O mundo divino se revela não como um espaço físico, mas como um estado de ser, um refúgio interior de paz e iluminação.
Shoghi Effendi, o Guardião da Fé Bahá'í, nos conduz à Terra Santa, onde encontramos uma conexão profunda com a jornada dos Sete Céus. Este lugar sagrado é uma terra prometida, santificada pela Revelação de Moisés, reverenciada como berço do Cristianismo e associada à jornada noturna do Apóstolo Muhammad através dos céus até o trono do Todo-Poderoso. Essa ligação com as raízes das tradições anteriores nos ajuda a compreender a unidade subjacente das Escrituras Sagradas e a visão compartilhada de um propósito maior.
Para nós bahá'ís, o céu e o inferno são estados interiores dentro de nossos próprios seres, um reflexo das escolhas que fazemos e das virtudes que cultivamos. A abordagem dos Sete Céus é um chamado para a transformação pessoal, uma jornada através dos vales da busca, do amor, do conhecimento, da unidade, do contentamento, da admiração e, finalmente, da verdadeira pobreza e inexistência absoluta. Estes estágios, conforme descritos por Bahá'u'lláh, são mais do que uma sequência linear; eles podem ser percorridos em uma única respiração, uma metáfora da intensidade da busca espiritual.
Esse mapeamento dos Sete Céus em uma perspectiva Bahá'í nos inspira a crescer espiritualmente, a transcender o ego e a buscar uma conexão profunda com o Criador. Cada céu, cada estágio, nos oferece uma visão única da divindade, um vislumbre da beleza, amor e sabedoria do Criador. Assim como os Sete Céus nas Escrituras Anteriores ao Advento da Fé Bahá'í têm propósitos distintos, eles convergem em uma mensagem de unidade, evolução e a busca pelo mais elevado estado de ser.
Essa compreensão compartilhada dos Sete Céus, desde as raízes no judaísmo, passando pela influência no cristianismo e islamismo, até a perspectiva profunda e simbólica da Fé Bahá'í, nos conecta como seres humanos em nossa busca espiritual compartilhada. A jornada pelos Sete Céus é um chamado universal à transcendência, uma exploração das dimensões mais elevadas da existência e uma busca pela luz eterna. Que possamos, através desta jornada, encontrar a essência divina dentro de nós mesmos e, assim, refletir a glória dos Sete Céus em nossas vidas, iluminando o caminho para uma humanidade mais unida e espiritualmente enriquecida.
Guillgerme Bitencourt