A análise dos resultados eleitorais revela uma conclusão surpreendente: foram os 654.001 votos do Chega — somados aos três municípios liderados pelo partido — que salvaram a Direita da derrota.

Sem este reforço, a Esquerda teria sido, em votos, a verdadeira vencedora.

No total, a Direita obteve 2.464.037 votos (1.810.036 provenientes dos partidos tradicionais da direita, acrescidos dos 654.001 do Chega), enquanto a Esquerda somou 2.232.935 votos (2.152.052 da esquerda democrática e 80.883 da esquerda radical). A diferença entre blocos é de 231.102 votos, o equivalente a 2,5% do total de eleitores inscritos — um valor que, embora aparentemente pequeno, foi suficiente para inverter o resultado político.

O problema, segundo a análise, reside no sectarismo e na fragmentação da Esquerda, que se apresentou às urnas com 68 combinações eleitorais diferentes, das quais 25 pertencentes ao campo progressista. Destas, 11 listas eram inviáveis eleitoralmente, resultado de divisões internas que inviabilizaram uma vitória possível se houvesse unidade.

A Esquerda, tradicionalmente plural e diversa, continua a demonstrar dificuldade em integrar as suas diferentes visões e modos de ação política, desperdiçando energia em rivalidades internas. A crítica é clara: “As diversas visões no seio das Esquerdas, as multifacetadas formas de estar na vida e na atividade política, não estão a ser tratadas como as Esquerdas as devem tratar — reforçando a unidade com um conhecimento das mesmas e integrando-as entre si.”

Assim, enquanto a Direita se reorganiza e capitaliza o crescimento populista e protestatário do Chega, a Esquerda parece ainda presa às suas próprias fronteiras ideológicas. E foi exatamente aí — no desentendimento interno à Esquerda e na mobilização coesa da Direita — que se decidiu o equilíbrio final das urnas em Portugal.

 

---

📰 Siga mais análises políticas e artigos de opinião em Estrategizando – Séc. XXI.