Ex-presidente denuncia ameaças à liberdade de expressão, judicial e universitária em discurso profundo sobre os valores fundacionais dos EUA

O ex-presidente Barack Obama quebrou o silêncio num poderoso discurso na Hamilton College, alertando para o estado atual da democracia nos Estados Unidos. Durante mais de uma hora de conversa com um professor da instituição, Obama refletiu sobre o crescente afastamento dos princípios democráticos que, segundo ele, sustentaram a coesão política e institucional do país desde o pós-Segunda Guerra Mundial.

Num momento que classificou como "crítico", Obama não poupou críticas veladas à administração Trump, alertando para práticas que minam o Estado de direito e os valores constitucionais dos EUA, como a ameaça a universidades por permitirem manifestações estudantis ou a intimidação de firmas legais por defenderem causas impopulares junto do governo. “Imaginem se eu tivesse retirado as credenciais da Fox News na Sala de Imprensa da Casa Branca”, ironizou, apontando a hipocrisia de certos setores que se mantêm em silêncio diante de abusos que antes denunciariam veementemente.

Obama destacou a erosão de consensos básicos entre republicanos e democratas, antes unidos na defesa da Constituição, da independência judicial, da liberdade de imprensa e da dignidade de todos os cidadãos. “Esses princípios deixaram de ser observados até mesmo por aqueles que dizem defendê-los. Agora, muitos só os invocam quando lhes convém”, afirmou.

Para o ex-presidente, parte do problema está na falta de diversidade nas instituições, como o Senado, onde durante o seu mandato era o único afro-americano. Essa homogeneidade social e cultural facilitava o entendimento entre divergentes, algo que, com a crescente pluralidade da sociedade, se perdeu – tornando o debate político mais tribal e polarizado.

Num tom mais pedagógico, Obama dirigiu-se aos jovens, alertando para o perigo da complacência: “Durante muito tempo, dizer-se progressista ou defensor da justiça social não custava nada. Agora, pode implicar sacrifícios reais.” E deixou um apelo claro às universidades e empresas: “É nas horas difíceis que se prova a fidelidade aos princípios.”

A liberdade de expressão foi um dos pontos centrais da sua intervenção, criticando diretamente a cultura do cancelamento. “Impedir alguém de falar porque não se gosta das suas ideias não é liberdade. A resposta é argumentar melhor, não silenciar”, defendeu. Para Obama, a resistência ao contraditório nas salas de aula está a preparar mal os estudantes para a vida real: “Vão encontrar pessoas desagradáveis no trabalho. Algumas são ignorantes, outras apenas mal informadas. É aqui que têm de aprender a lidar com isso.”

No final do discurso, Obama sublinhou que a recuperação da democracia não depende de salvadores políticos, mas sim do envolvimento ativo dos cidadãos comuns. “O cargo mais importante numa democracia é o de cidadão”, concluiu, num apelo à mobilização cívica.

O discurso, divulgado em exclusivo pela Midas Touch Network, rapidamente se tornou viral nas redes sociais. Obama, que esteve relativamente ausente do espaço público nos últimos meses, regressa assim ao debate político com um alerta que ecoa para além das fronteiras americanas: a democracia é frágil e exige vigilância constante.


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