A Lusa visitou 'Atelier' na quinta-feira de manhã, e Pedro Cabrita Reis, revelou ter decidido "não fazer mais nada", mas como alguém que trabalha "desalmadamente", é possível que tenha criado mais obras desde então.
Entre trabalhos sobre papel e pinturas a óleo e tela, datados de quando Pedro Cabrita Reis era ainda adolescente, e "já tinha absoluta clareza" que ia ser artista, e que o seria "toda a vida" nos oito pavilhões, onde há apenas luz natural, podem ser percorridos como cada visitante entender, visto que não há uma ordem cronológica ou temática da colocação das peças.
"O critério de montagem desta exposição não é seguramente um critério de ordem curatorial ortodoxo", referiu o artista, explicando que as obras expostas "vêm de tempos diferentes, de disciplinas diferentes, contam histórias diferentes e estão todas umas ao lado das outras, ordenadas de uma forma aleatória, mas desenhada, de uma forma inédita, mas desenhada, de uma forma caótica, se quiser levar-se isto ainda mais longe, mas desenhada".
O lugar que cada obra ocupa no espaço partiu de uma decisão do artista: "Se esta tela laranja, que é uma paisagem, deve ser ou não mostrada com estes autorretratos que se encontram à sua direita".
Pedro Cabrita Reis quis levar para os pavilhões da Mitra "o espírito do atelier" de um artista, "um espírito que tem uma desordenação acumulada".
"A exposição chama-se 'Atelier' não só pelo facto de ser apenas oriunda do meu acervo pessoal, mas também porque há no atelier uma ambiência de convivência.
As obras atropelam-se, empurram-se, falam umas com as outras, estão umas viradas para a parede, outras viradas para cá, com esculturas pelo meio do chão",
"São fruto de um plano relativamente subjetivo e na reta final fazem-se os acertos. Isto não foi montado de uma forma sequencial -- o primeiro pavilhão primeiro, depois o segundo, etc.. Ela [exposição] nasceu, cresceu, construiu-se e foi-se desenvolvendo da mesma forma em todos os pavilhões ao mesmo tempo. Até que vieram os dias finais em que eu e a minha equipa fomos passando [em todos os pavilhões] e tomando notas 'passar isto talvez para ao pé daquela peça, assim, assim, tumba'. E foi assim", explicou.
Embora na exposição estejam expostas mais de 1.500 peças, no armazém onde Pedro Cabrita Reis guarda o seu acervo pessoal ficaram ainda muitas outras.
"O que está aqui é uma grande parte, seguramente mais do que dois terços, mas tenho ainda outras obras no mesmo armazém de onde estas vieram", contou.
Algumas, "pela sua dimensão, não tinham cabimento" na mostra. "Noutros casos, as minhas opções de escolha foram sendo feitas de outra maneira -- fui repetidas vezes ao armazém buscar obras para esta exposição e algumas voltaram para casa", referiu.
Pedro Cabrita Reis partilhou com a Lusa que trabalha "desalmadamente", está "sempre a trabalhar".
"Tenho essa disposição interior. Ainda que não seja com as mãos, o artista está sempre a trabalhar. Olhar em redor, sinalizar as coisas em redor, e ver através delas aquilo que elas podem dar como potencial motivo para a criação de uma obra, ou para o aprofundamento de um qualquer pensamento, na, da e para a criação artística", partilhou.
'Atelier' pode ser visitada de quinta-feira a domingo.
Joffre Justino