Não são nem 6h da manhã e o relógio desperta, estridente. "Só mais 5 minutinhos", imploramos, mas a luz, que invade as frestas da cortina, nos informa que é preciso levantar. Escovamos os dentes, lavamos o rosto, tomamos um café... tudo no automático. Depois um banho e o dia começa.

Seguimos destinos lógicos, apressados, ao encontro de nossa rotina. E quando a encontramos, já estamos cansados pelo trajeto. Mas não é hora de esmorecer: há uma pilha enorme de papeis em cima da mesa, a caixa de e-mail está cheia, mil demandas pendentes... E assim o dia vai caindo no vão das horas e, quando nos damos conta, já são meio dia... estamos exaustos.

Recentemente, uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) apontou que 98% dos brasileiros apresentam algum nível de cansaço físico ou mental, e 63% já acordam indispostos. Muitos são os fatores que podem ser associados a essa epidemia de cansaço: estresse, a correria do dia a dia, o uso abusivo de tecnologias o desgaste sofrido na pandemia. Somando-se a tudo isso, vivemos sob os imperativos de um sistema que exige alta performance full time, em todos os campos da nossa vida.

Bombardeados por modelos de vidas perfeitas, nos desdobramos em mil para compormos o quadro de funcionário do mês; para nos tornarmos alunos nota 10; mães do ano; caras de sucesso aos 30 anos; para termos o abdome trincado, o shape ideal; para lermos 8 livros por mês. É a ênfase crescente na produtividade, a necessidade emocional de se mostrar competente em tudo. O resultado é que, no final de todos os dias, estamos demasiadamente fatigados.

Obviamente, a exaustão não é um sentimento exclusivo de nossa época. O que muda, ao longo da história, são as causas e efeitos associados ao cansaço. Na Idade Média, a acídia, definida como estado de apatia e torpor, era condenado pela Igreja. Naquela época, ceder ao cansaço significava fraqueza espiritual. Na modernidade, com a ascensão do capitalismo selvagem, a exaustão surgia como reflexo da exploração. Hoje, na sociedade da alta performance, temos o burnout para nomear a angústia por resultados.

Reservada a relevância desse sentimento na história da humanidade, é indubitável sua proeminência na atualidade. Como aponta o filósofo Luiz Felipe Pondé: "nunca vivemos tanto, tivemos que ser tão eficientes e felizes, além de precisarmos acumular tanta coisa." Ao fim e ao cabo, estamos exaustos, mas, mesmo assim, continuamos a correr, a produzir, a acumular. E se o corpo é um atrapalho que deprime, fica ansioso, se recusa a dormir, se recusa a acordar, recebemos um diagnóstico e algumas pílulas e seguimos correndo, produzindo, acumulando...exaustos.

 

Carolina Rodrigues

Historiadora e Psicanalista