Mas estaremos preparados para esta transformação? Segundo dados recentes do Eurobarómetro 2024, embora 61% dos cidadãos europeus reconheçam que a IA melhora a produtividade, mais de 72% expressam preocupação com a substituição de empregos por máquinas, e 84% defendem que deve haver limites éticos e legais claros sobre o seu uso.
A consultora McKinsey estima que, até 2030, cerca de 800 milhões de postos de trabalho em todo o mundo poderão ser automatizados, sobretudo nas áreas administrativas, logísticas e de produção. No entanto, surgirão também novas profissões que ainda hoje não conseguimos nomear – tal como aconteceu durante as revoluções industriais anteriores.
A grande questão não é se a IA vai substituir o trabalho humano, mas quais tarefas serão automatizadas e como podemos preparar as pessoas para novas funções de maior valor cognitivo, emocional e criativo. Profissões ligadas à saúde mental, à educação, ao design, à ética, à comunicação e ao pensamento estratégico serão cada vez mais valorizadas.
A resposta está, em grande parte, na educação. Precisamos de requalificar milhões de trabalhadores para que não fiquem para trás. Mas mais do que ensinar a programar ou dominar ferramentas digitais, é urgente promover a literacia crítica, a criatividade, a inteligência emocional e o pensamento ético.
A UNESCO já defendeu, em vários documentos estratégicos, que o ensino deve deixar de ser baseado apenas na transmissão de conteúdos e passar a formar cidadãos capazes de pensar, questionar e adaptar-se a contextos imprevisíveis.
Como disse Yuval Noah Harari: "Em vez de ensinar as crianças a competir com as máquinas, devemos ensinar-lhes o que as máquinas não conseguem fazer."
As empresas têm também um papel central nesta transição. Integrar a IA com responsabilidade, garantindo transparência nos algoritmos, proteção dos dados e valorização do talento humano, é essencial para evitar um futuro distópico onde o lucro se sobrepõe à dignidade do trabalho.
O Estado, por sua vez, deve liderar com legislação clara, mecanismos de regulação eficazes e políticas públicas que promovam a equidade no acesso à inovação.
A União Europeia tem sido pioneira na criação de uma Carta dos Direitos Digitais, alertando para os riscos do uso abusivo da IA em áreas como justiça, crédito bancário, saúde e segurança pública.
O debate sobre a IA não é apenas tecnológico – é profundamente humano. O que está em jogo é a forma como queremos viver, trabalhar e relacionar-nos. A IA pode ser uma alavanca para o progresso ou um instrumento de exclusão – tudo depende das escolhas que fizermos hoje.
O jornal Estrategizando.pt convida os seus leitores a pensar criticamente este novo paradigma. Porque o futuro do trabalho começa na forma como o compreendemos agora.
E porque a democracia também se joga nos algoritmos que ainda não entendemos totalmente.
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