Aproveitando a ocasião de uma cimeira intitulada *Thinking Football*, promovida pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) e realizada no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, o ministro continuou: “Quando a indústria do futebol e do desporto em geral está saudável, isso alimenta e acelera a economia portuguesa. Ao mesmo tempo, à medida que a economia cresce, fortalecendo diversos setores, há um impacto positivo no futebol. Estamos interligados de forma virtuosa. E é bom que assim seja”, concluiu.
Na visão do ministro, o futebol “pode posicionar bem Portugal como destino turístico ou de investimento”, destacando as receitas provenientes de direitos audiovisuais, merchandising, patrocínios e transferências, como sinais de “uma economia em movimento”.
Ainda acrescentou: “Precisamos de promover o crescimento económico, e isso é feito através do investimento privado, principalmente estrangeiro. A internacionalização é o maior desafio da economia portuguesa. A escala hoje não depende apenas da dimensão do país, mas sim da forma como nos integramos na rede global. O melhor que posso fazer como Ministro da Economia é ir ao estrangeiro captar investimento para Portugal.” No entanto, este é um discurso que já ouvimos repetidamente ao longo de décadas, sem que resultados significativos tenham surgido dessa visão.
O governante apelou ainda à necessidade de “pensar de forma diferente numa Europa envelhecida”, defendendo que Portugal precisa de “focar-se mais na execução de resultados”, embora reconheça que o país tem dificuldade em transformar investigação e desenvolvimento em inovação dentro das empresas.
Segundo o ministro, a chave está nas pessoas e no talento: “Precisamos de mais gente jovem, que veja Portugal como uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento, e que escolha o país de forma voluntária, não por obrigação.” Para ilustrar a sua ideia, recorreu ao exemplo de Cristiano Ronaldo como um dos grandes “embaixadores” de Portugal, omitindo, porém, figuras como Rui Nabeiro, que, com os Delta Cafés, é um exemplo extraordinário de empreendedorismo e impacto económico.
Comecemos pelo Sporting, que registou um volume de negócios recorde de 222 milhões de euros, o maior da sua história, e apresentou um segundo ano consecutivo de resultados líquidos positivos, com lucros de 25 milhões de euros.
Isto parece promissor, certo?
No entanto, quando olhamos para o FC Porto, a situação já é mais preocupante. O clube tenta economizar entre 20 a 30 milhões de euros, mas ainda está longe dos seus rivais em termos de valorização de ativos. E, o mais alarmante, a sua dívida é massiva: 310 milhões de euros, com 100 milhões provenientes de empréstimos obrigacionistas a taxas de 5% e 6%. Adicionalmente, o clube conta com cerca de 200 milhões de euros de receitas antecipadas via factoring, um custo que não é claramente detalhado no relatório de contas.
A situação complica-se também no Benfica, onde a SAD apresentou um resultado líquido negativo de 31,36 milhões de euros no exercício 2023/24.
Em contraste, o SC Braga apresentou um resultado positivo de 20,377 milhões de euros para o exercício 2022/23. Apesar deste resultado encorajador, quando somamos os quatro grandes, o cenário geral é bastante negativo.
Onde, então, o futebol contribui para a economia portuguesa? Na exportação de jogadores, sem dúvida. No total, os clubes portugueses arrecadaram 372,87 milhões de euros com a venda de 278 jogadores, e investiram 183,15 milhões na aquisição de 320 novos atletas, o que gerou um saldo positivo de 189,72 milhões de euros.
O Benfica foi o clube que mais gastou em reforços, com um desembolso de 53,5 milhões de euros neste verão. O Sporting investiu 52,9 milhões, um valor próximo ao do rival, mas, ao contrário do habitual, gastou mais do que arrecadou, recebendo apenas 40,55 milhões em vendas. O FC Porto despendeu 39,1 milhões de euros, ficando atrás dos dois rivais.
No que toca às vendas, o Benfica liderou com um impressionante encaixe de 146,92 milhões de euros, superando o FC Porto (58 milhões) e o SC Braga (50,2 milhões).
No entanto, comparando com as ligas internacionais, como a Premier League, que investiu 2,85 mil milhões de euros só neste verão, Portugal fica muito atrás. As 10 maiores transferências do verão incluem valores astronómicos, como 116,6 milhões de euros por Declan Rice, transferido do West Ham para o Arsenal, e 116 milhões por Moisés Caicedo, do Brighton para o Chelsea. Nenhuma dessas transferências envolveu clubes portugueses.
Por fim, o ministro referiu que o próximo ano pode trazer boas oportunidades para a economia portuguesa no que diz respeito à atração de investimento, e agradeceu ao futebol português pelo seu contributo. Indicou ainda os Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Coreia do Sul, Japão e os países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) como os mercados preferenciais para a captação de capital.
Neste cenário, onde as promessas de crescimento económico se entrelaçam com as frágeis finanças dos clubes de futebol, torna-se crucial um olhar crítico e informado. O Estrategizando é a voz que se mantém firme na busca pela verdade, livre de amarras e influências. Com uma modesta assinatura, você pode apoiar este projeto de jornalismo independente, que promove uma visão fraterna e solidária, sempre guiada pela integridade.
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Joffre Justino