Ao lado de ministros da Agricultura da União Africana, Lula da Silva fez um pronunciamento incisivo em defesa da dignidade alimentar. “Precisamos produzir alimentos e sensibilizar o resto do mundo, criando um processo de indignação na mente das pessoas. Não é possível a gente se conformar que, na primeira metade do século 21, existam 730 milhões de pessoas passando fome. É uma marca que não podemos esquecer”, afirmou o presidente.

Lula criticou a falta de prioridade política no enfrentamento da fome e destacou a responsabilidade dos governantes. “Temos condições de mudar isso e determinar uma prioridade: para quem eu quero governar, quem eu preciso atender, a quem o Estado deve servir? Essa é uma decisão que somente nós, governantes, precisamos tomar”, disse.

Em tom indignado, denunciou os gastos militares em contraste com o abandono social: “É triste saber que o mundo gastou US$ 2,4 triliões em armamentos, no ano passado, e não teve a coragem de gastar isso ensinando as pessoas a acabar com a fome”.

Ao falar sobre as relações com a África, Lula fez questão de reconhecer o legado africano na formação da identidade nacional brasileira.

“Devemos o que nós somos, a nossa cor, a nossa arte, a nossa cultura, o nosso jeito de ser, ao continente africano. O Brasil não pode pagar isso em dinheiro, isso não pode ser mensurado em dinheiro. Mas podemos pagar em solidariedade e em transferência de tecnologia”, declarou.

Lula acentuou que o Brasil dispõe de tecnologia agrícola suficiente para apoiar os países africanos na transformação de terras improdutivas.

“O Brasil pode ajudar, tem como ajudar. Basta que a gente assuma a responsabilidade de tratar vocês com o carinho e respeito que merecem. E saibam que, com a existência das mais modernas técnicas, não tem mais terra improdutiva em lugar nenhum do mundo”, reforçou o presidente, encorajando as delegações a aproveitarem as oportunidades do evento.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, destacou o fortalecimento dos vínculos com os países africanos em uma cooperação orientada pela solidariedade e pelo respeito mútuo. “Temos reforçado os vínculos com cada um dos países africanos. A expressiva participação de representantes do continente africano no II Diálogo exemplifica a força do Sul Global, num cenário impactado pelas mudanças climáticas”, pontuou.

Representando os países africanos, a vice-primeira-ministra de Essuatíni, Thulisile Dladla, agradeceu a hospitalidade brasileira e destacou a importância da cooperação Sul-Sul. “Compartilhamos um legado que mostra nossa resiliência”, afirmou. Dladla ressaltou os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela crise econômica sobre a agricultura familiar e reafirmou o compromisso africano com uma agenda de combate à fome. “Assumo o compromisso da nossa cooperação para garantir que toda família tenha comida e abrigo”, disse.

O evento reúne mais de 40 delegações de países africanos, além de organismos internacionais, bancos multilaterais de desenvolvimento, instituições de pesquisa, cooperativas de agricultura familiar e representantes do setor privado.