Não se encontram sequer opositores, salvo poucas “honrosas” excepções. Digo “honrosas”, não porque concordo com o que escrevem, mas porque, ao menos, rompem o silêncio e alimentam o debate. Na verdade, parece-me que esses opositores se preocupam mais em denegrir o Partido e o camarada Arnaldo Matos, do que em perspectivar o problema que se levanta que é, no fundo, porque razão o comunismo não tem vingado no mundo? O que se fez de errado?
Muitas teses, desde o triunfo da Revolução na União Soviética, têm aparecido a travar o seu avanço: teses dessas que deram origem ao revisionismo. Cuidado, portanto com os revisionismos!
• “É preciso que a revolução avance em todos os países, e como tal ainda está longe de acontecer, fiquemos à espera”
• “A revolução comunista não se pode fazer num só país, portanto, aguardemos”
• “o povo não está preparado para o comunismo nem para socialismo”
Aqui em Portugal, temos essa última, culminando com o “ponhamos o socialismo na gaveta” dum homem de mão da CIA em Portugal que foi o Mário Soares.
Não sou conhecedor profundo de toda a história do comunismo em Portugal e do Partido, mas acho saudável que se faça uma revisão desapaixonada de outras teses, talvez menos reaccionárias. Entendo que essas “revisões” ou divergências de fundo deveriam ser escalpelizadas. É que um exercício de aquecimento antes de fazer o pino completo poderá ser útil para o debate.
Será a ideia do camarada Arnaldo Matos, com as “Teses”, a mesma, de abandonar a luta pelo comunismo? O camarada ganhou, ao longo da sua vida, com todo o tipo de provas dadas na luta pelo Comunismo, o direito a “Fazer o Pino”. Este “Fazer o Pino” é o levantar de questões que sempre foram bandeiras dos reaccionários contra o comunismo, que como tal foram liminarmente refutadas, mas sem uma análise desapaixonada que eventualmente as perspective com um ponto de vista comunista.
Na verdade, os ataques às revisões sendo compreensíveis e necessários, também poderão ter calado outras, das quais alguma coisa se poderia aproveitar. Por vezes a Verdade é mal servida e há que ter cuidado ao deitar fora a água suja do banho, não vá lá dentro algum menino… Atentemos então no seu legado aqui em debate.
Mas para além dessa essência, quanto idealismo foi arrastado? Quantos revolucionários não sofreram na luta pelos seus ideais?
E porque o povo por vezes abandona os revolucionários de ideais tão nobres e generosos? Somos viciados em idealismos por séculos de dominância dos que detêm o poder e temos que manter dentro de nós uma vigilância constante sobre a nossa prática,
Estaline atravessou a Sibéria sofrendo provações inimagináveis lutando pelo ideal comunista e entendeu que o povo deveria fazer igual. E muitos morreram à fome nessa luta. Deveria ter actuado de outra maneira? Não havia grande experiência, mas, para o futuro, as circunstâncias da luta têm que ser analisadas e o povo tem que ser protegido, pois em certas situações pode preferir ser escravo a morrer à fome. Che Guevara foi assassinado a lutar pelo que achava ser melhor para o povo, o povo fez-lhe o manguito e Che foi abatido.
Assim, os “recuos” na luta pelo socialismo e pelo comunismo tiveram várias causas, fundamentalmente falta de condições económicas e de preparação do povo, e deu vários pretextos à classe dominante para atacar a revolução: Denunciando-se a estratégia de Soares & Cia de “Meter o socialismo na gaveta”, não se pode ignorar, no entanto as dificuldades. O camarada Arnaldo Matos recorda-nos então, que nenhuma classe abandona o poder sem esgotar todos os seus recursos. Deverá então deixar-se a classe dominante ir desenvolvendo os recursos do capitalismo até que esse sistema económico se esgote? Será essa a estratégia usada na China? Estou demasiado distante da China para poder examinar como correm as coisas por lá, não me fio na propaganda chinesa nem na dos seus opositores.
Concluo de tudo isto, ser esta a mensagem das “Teses” - É que o sistema económico em si não determina a revolução e o bem-estar dos povos; o determinante é a ditadura do proletariado. O sistema económico socialista ou comunista não pode ser forçado. Tem que se ter em conta a situação económica e geopolítica. A ditadura do proletariado usará o capitalismo, o socialismo, o cooperativismo, o sistema económico que for mais conveniente para um determinado tempo e lugar. Para conduzir a revolução no sentido do bem-estar e desenvolvimento do povo, tal como na condução do automóvel, o importante é o condutor que saberá usar o acelerador ou o travão.
Assim, os revolucionários terão que desenvolver a ditadura do proletariado, pois isso é que determina a vitória da revolução.
Recuar na luta e esperar que o capitalismo caia por si é um oportunismo. Se não houver luta, o capitalismo decadente gangrena e isso só tem um significado – A guerra!
Não estamos na ditadura do proletariado, mas podemos prepará-la sempre, mesmo sob ditadura da burguesia. Em perspectiva, agora no horizonte, a velha sentença - “Ou a Revolução evita a guerra, ou a guerra despoleta a Revolução”
Então há que, desde já, se lutar por uma verdadeira democracia, o que passará por propor uma constituição alternativa, que seja realmente democrática e por uma organização popular assente no local de trabalho e no local de residência, a que os recursos informáticos actuais vão dar uma nova fluidez e abrangência. Propagandear isso será a grande tarefa dos revolucionários de hoje, denunciando junto das massas populares todo o aparelho ideológico e político que, cada vez mais é o último recurso da classe dominante, desmascarar e combater esses recursos psicológicos e opressivos que impedem a luta popular. Assim, a classe dominante esgotará mais rapidamente o seu capitalismo injusto e explorador, reduzindo-o a nichos irrelevantes que, eventualmente, poderão persistir por muito tempo.