Lembro-me de uma manhã em S. Vicente - Cabo Verde, enquanto observava o mar. Aquele movimento constante das ondas parecia refletir a mente humana: por vezes calma, outras vezes turbulenta, mas sempre em movimento.

Foi nesse momento que um pensamento me atravessou: "Quantas das decisões que tomamos realmente nascem de escolhas conscientes?"

Essa questão, aparentemente simples, liga os pilares que moldam a minha vida profissional e pessoal: a comunicação, o coaching, a liderança e o comportamento humano. O que descobri ao longo dos anos, tanto na teoria como na prática, é que o verdadeiro poder transformador está no ponto onde estes temas convergem. E esse ponto reside na forma como o cérebro, guiado por emoções e propósito, interage com o mundo.

O Paradoxo do Cérebro: Racionalidade ou Emoção?

O neurocientista António Damásio foi quem primeiro me fez questionar o paradigma cartesiano. Quando afirmou em O Erro de Descartes que “não somos máquinas racionais que ocasionalmente sentem emoções, mas sim seres emocionais que de vez em quando pensam”, senti como se uma peça-chave do puzzle tivesse sido revelada.

Damásio introduz uma verdade desconfortável: a emoção não é o oposto da razão, mas a sua base. Daniel Kahneman, no seu livro Pensar, Rápido e Devagar, reforça esta ideia ao descrever os dois sistemas de pensamento que regem as nossas decisões:

1. O Sistema 1, rápido, automático e emocional, que governa a maioria das nossas ações diárias.
2. O Sistema 2, lento, deliberativo e lógico, que intervém apenas em momentos críticos.

Esta dualidade explica por que razão tantas decisões aparentemente lógicas são, na verdade, emocionais. Lembre-se da última vez que comprou algo importante. A lógica justificou a escolha, mas o desejo — aquela conexão emocional com o objeto ou ideia — já tinha decidido por si.

E é aqui que começa a relação com outros temas. A comunicação, o coaching e a liderança dependem de entender não apenas o que as pessoas pensam, mas como elas sentem.

A Comunicação: Um Espelho das Emoções

Há alguns anos, trabalhei com uma equipa comercial que enfrentava um desafio curioso. Eles tinham dados, factos e argumentos impecáveis, mas não conseguiam fechar vendas. Foi então que percebi: eles estavam a comunicar com o lado errado do cérebro.

O neuromarketing ensina-nos que o cérebro humano responde mais a histórias do que a factos. Uma boa narrativa ativa áreas cerebrais associadas a experiências pessoais, criando uma ligação emocional. Quando a equipa começou a usar metáforas e histórias reais, os resultados mudaram drasticamente.

A comunicação eficaz não é apenas transmitir informação; é construir pontes emocionais. E aqui está a primeira ligação: a comunicação é a base do coaching e da liderança, porque sem ela não há conexão, e sem conexão não há transformação.

Coaching: A Arte de Perguntar, Não de Responder

O coaching é, para mim, o ponto onde a ciência do cérebro encontra a humanidade. Recordo-me de uma cliente que, ao mudar de carreira, estava paralisada pelo medo. Não precisei de lhe dar respostas; precisei de lhe fazer as perguntas certas.

“E se o medo não fosse um obstáculo, mas um indicador de crescimento?”, perguntei. Ela refletiu e, com o tempo, começou a ver o medo como um sinal de que estava a sair da sua zona de conforto — exatamente onde o crescimento acontece.

Este momento ensinou-me algo poderoso: o coaching é menos sobre ensinar e mais sobre desbloquear. Ao compreender como o cérebro processa emoções e crenças, ajudamos as pessoas a encontrar a sua própria direção. E aqui entra a liderança.

Liderança: A Sabedoria de Conectar Pessoas

Na sua essência, liderar é compreender e gerir emoções — as suas e as dos outros. Daniel Goleman, pioneiro no conceito de inteligência emocional, defende que os melhores líderes não são apenas estrategas brilhantes, mas também mestres na leitura de emoções. Sem empatia, não há liderança.

Lembro-me de um gestor que conheci num workshop. Ele dizia que o sucesso da sua equipa dependia de processos eficientes e regras claras. No entanto, quando lhe perguntei como os seus colaboradores se sentiam, ficou em silêncio. O problema não era falta de organização; era falta de conexão.

A liderança está no cruzamento entre comunicação e coaching, porque é nesse espaço que nascem a confiança e a motivação. Mas há mais um elemento que liga tudo isto: o propósito.

Propósito: O Porquê que Nos Move

O conceito japonês de ikigai — o ponto onde paixão, talento e impacto se encontram — é talvez o elo mais poderoso que une estas ideias. Sem um propósito claro, até as estratégias mais sofisticadas falham. Com ele, até os maiores desafios se tornam possíveis.

Certa vez, durante uma formação, pedi aos participantes que descrevessem o que realmente os movia. Um deles disse: “Quero deixar um legado para os meus filhos.” Foi um momento simples, mas transformador. Quando as pessoas encontram o seu ikigai, a vida e o trabalho ganham uma profundidade que transcende resultados.

E aqui está o ponto final desta ligação: o propósito dá sentido à comunicação, ao coaching e à liderança. Ele é a força invisível que une todos os elementos.

Conexão, Interdisciplinaridade e Inovação

Se há algo que o estudo do cérebro me ensinou, é que nenhuma disciplina vive isolada. Tal como os neurónios formam redes, também o comportamento humano, a liderança e a comunicação dependem de ligações. A inovação surge quando atravessamos fronteiras, quando aprendemos com áreas diferentes da nossa.

Mas para isso, precisamos superar um inimigo comum: o medo. Medo do erro, medo da vulnerabilidade, medo de parecer menos competente. Curiosamente, o mesmo medo que paralisa é o que pode impulsionar, se o enfrentarmos.

Conclusão: It's All About Your Brain

O cérebro é mais do que um órgão; é o palco onde as emoções, decisões e propósitos se encontram. É aqui que reside a magia: ao entender como ele funciona, podemos comunicar melhor, liderar com mais empatia e encontrar um propósito que transforme não só a nossa vida, mas também a daqueles à nossa volta.

Como dizia António Damásio: “Sentir é o alicerce de saber.” E, afinal, quando alinhamos comunicação, coaching, liderança e propósito, o que realmente estamos a fazer é aprender a sentir melhor.

Se há algo que posso deixar-lhe como reflexão, é isto: o cérebro não é só o que nos define, é o que nos conecta. Por isso, nunca subestime o poder das conexões — internas ou externas. Afinal, a vida é construída na ligação entre ciência e emoção, razão e propósito.

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Referências Inspiradoras

1. António Damásio - O Erro de Descartes: Emoção, Razão e o Cérebro Humano
2. Daniel Kahneman - Pensar, Rápido e Devagar
3. Daniel Goleman - Inteligência Emocional
4. Heath, C., & Heath, D.- Made to Stick
5. Garcia, H., & Miralles, F. - Ikigai: The Japanese Secret to a Long and Happy Life
6. SalesBrain - Neuromarketing e neurociência aplicada.
7. Paul Ekman - Estudos sobre emoções e expressões faciais.