Com a ascensão do cristianismo, as festas pagãs tiveram de ganhar novos significados, e o Carnaval tornou-se a oportunidade dos fiéis despedirem-se de se alimentarem de carne e alias a palavra carnaval vem do latim carnis levale que significa “retirar a carne” pois para a Igreja Católica, o Carnaval antecede a Quaresma, o período de quarenta dias antes da Páscoa, onde se recorda o momento no qual Jesus esteve no deserto e foi tentado pelo demônio.
Desde o início destas suas comemorações no Carnaval, as pessoas podiam esconder ou trocar de identidade passando a ter maior liberdade para se divertir, ao mesmo tempo que podiam adquirir características ou assumir funções diversas do que eram - pobres podiam ser ricos, homens podiam ser mulheres, etc.
Alias em Veneza, os nobres usavam máscaras para poder desfrutar da festa junto do povo e manter sua identidade oculta dando origem ao uso da máscara, que é uma característica marcante desta celebração.
Foi,, graças a Portugal e às comunidades italianas que o entrudo surgiu na cidade do Rio de Janeiro.
O termo, derivado do latim "introitus" significava "entrada", "começo", nome com o qual a Igreja denominava o começo das solenidades da Quaresma pois com a supremacia da Igreja Católica, o entrudo passou a fazer parte do calendário religioso, indo do Sábado Gordo à Quarta-feira de Cinzas.
O certo é que tanto em Portugal, como no Brasil, o Carnaval não se assemelhava de forma alguma aos festejos da Itália Renascentista pois eram brincadeiras de rua muitas vezes violenta, onde se cometia todo tipo de abusos e atrocidades.
Era comum os escravos molharem-se uns aos outros, usando ovos, farinha de trigo, polvilho, cal, goma , laranja podre, restos de comida, enquanto as famílias brancas se divertiam e das janelas ou varandas das suas casas derramavam baldes de água suja aos passantes distraidos, "num clima de quebra consentida de extrema rigidez da família patriarcal".
Foi esse Carnaval mais ou menos selvagem que desembarcou no Brasil com as primeiras caravelas portuguesas e os primeiros foliões.
O entrudo era também praticado pelos escravos que saíam à rua com seus rostos pintados, jogando farinha e bolinhas de água de cheiro nas pessoas nem sempre bem cheirosas.
O entrudo era pois violento e ofensivo em razão dos ataques às pessoas com aquele tipo de materiais, mas era bastante popular.
Por volta de meados do século XIX, no Rio de Janeiro, a prática do entrudo passou a ser criminalizada, depois de uma campanha contra a manifestação popular veiculada pela imprensa e enquanto o entrudo era reprimido nas ruas, a elite do Império criava os bailes de carnaval em clubes e teatros e criando ainda sociedades recreativas, sendo a primeira o Congresso das Sumidades Carnavalescas, que passou a desfilar nas ruas da cidade.
Assim se o entrudo popular era reprimido, a alta sociedade imperial tentava tomar as ruas mas as camadas populares não desistiram de suas práticas carnavalescas e ao final do século XIX, procuraram adaptar-se às tentativas de disciplinamento policial, e criaram-se os cordões e ranchos.
Os primeiros incluíam a utilização da estética das procissões religiosas com manifestações populares, como a capoeira e os zé-pereiras, tocadores de grandes bumbos e os ranchos eram cortejos praticados principalmente pelas pessoas de origem rural.
Com o passar do tempo e devido a insistentes protestos, o entrudo civilizou-se, adquiriu maior graça e leveza, substituindo as substâncias nitidamente grosseiras por outras menos comprometedoras, como os limões de cheiro (pequenas esferas de cera cheias de água perfumada) ou como os frascos de borracha ou bisnagas cheias de vinho, vinagre ou groselha sendo estas as precursoras dos lança-perfumes introduzidos em 1885.
Quanto à música, o entrudo não possuía um ritmo ou melodia que o simbolizasse e só a partir da primeira metade do século XIX, com a chegada dos bailes de máscaras nos moldes europeus, foi que se pôde notar um desenvolvimento musical mais sofisticado.
As marchinhas de carnaval surgiram também no século XIX, cujo nome originário mais conhecido é o de Chiquinha Gonzaga, bem como sua música O Abre-alas. ( no fim do texto canção e poema)
O samba somente surgiria por volta da década de 1910, com a música Pelo Telefone, de Donga e Mauro de Almeida, e ao longo do tempo o legítimo passou a ser o representante musical do carnaval.
Na Bahia, os primeiros afoxés surgiram na viragem do século XIX para o XX, com o objetivo de relembrar as tradições culturais africanas com o Embaixada Africana e os Pândegos da África.
Por volta do mesmo período, o frevo passou a ser praticado no Recife, e o maracatu nas ruas de Olinda.
Pelo século XX, o carnaval popularizou-se ainda mais no Brasil e conheceu uma diversidade de formas de realização, tanto entre a classe dominante como entre as classes populares.
Por volta da década de 1910, os corsos surgiram, com os carros conversíveis da elite carioca desfilando pela avenida Central, atual avenida Rio Branco prática que durou até cerca a década de 1930.
Entre as classes populares, surgiram as escolas de samba na década de 1920 sendo as primeiras escolas de samba a Deixa Falar, que daria origem à escola Estácio de Sá, e a Vai como Pode, futura Portela sendo as escolas de samba o desenvolvimento dos cordões e ranchos e a primeira disputa entre as escolas ocorreu em 1929.
As marchinhas conviveram em notoriedade com o samba a partir da década de 1930.
Uma das mais famosas marchinhas foi Os cabelos da mulata, de Lamartine Babo e os Irmãos Valença.
Essa década seria conhecida como a era das marchinhas mas os desfiles das escolas de samba desenvolveram-se sendo obrigados a se enquadrar nas diretrizes do autoritarismo da Era Vargas.
Os alvarás de funcionamento das escolas apareceram nessa década.
Em 1950, na cidade de Salvador, o trio elétrico surgiu após Dodô e Osmar utilizarem um antigo caminhão para colocar em sua caçamba instrumentos musicais por eles tocados e amplificados por alto-falante, desfilando pelas ruas da cidade.
Mas o nome somente seria utilizado um ano depois, quando Temistócles Aragão foi convidado pelos dois.
Um novo veículo foi utilizado, com a inscrição “Trio Elétrico” na lateral.
O trio elétrico conheceria transformação em 1979, quando Morais Moreira adicionou o batuque dos afoxés à composição.
Entretanto as escolas de samba e o carnaval carioca passaram a ser uma importante atividade comercial a partir da década de 1960.
Empresários do jogo do bicho e de outras atividades empresariais legais começaram a investir na tradição cultural.
A Prefeitura do Rio de Janeiro passou a colocar arquibancadas na avenida Rio Branco e a cobrar ingresso para ver o desfile.
Em São Paulo, também houve o desenvolvimento do desfile de escolas de samba a partir desse período.
Em 1984, foi criada no Rio de Janeiro a Passarela do Samba, ou Sambódromo, sob o mandato do ex-governador Leonel Brizola e com o seu desenho arquitectónico realizado por Oscar Niemeyer, é hoje um dos principais símbolos do carnaval brasileiro que passou a ser um lucrativo negócio do ramo turístico e do entretenimento.
Milhões de turistas dirigem-se ao país na época de realização dessa festa, e biliões de reais são movimentados na produção e consumo dessa mercadoria cultural.
Homenagear Chico Buaque de Holanda?
A mulher na obra de Chico Buarque é contemplada, estudada e recebe homenagens em todo o Brasil, inclusive em blocos de Carnaval e no Natal, e tal surge pela primeira vez em 2024, com o desfile de estreia do FullChico, na sexta-feira, 09.01
O grupo reúne 34 mulheres e homens convidados em performance, canto e batucada regida pelo mestre Jorge Negão.
Quem completa com frevo é a charanga de Gilberto Cabral e a ideia veio da produtora cultural Ilana Félix, fã de Chico e do Carnaval.
“Eu pensei em fazer esse bloco, não apenas pra cantar Chico Buarque, mas um bloco de viver a obra dele. De viver em todas as suas possibilidades. Vamos trabalhar teatro, dança, artes plásticas, das mais possíveis formas. Neste ano, a gente vai ter duas performances durante o desfile. A gente vai surpreender, com um bloco não convencional. A gente é um bloco performático.”, avisa a produtora, anunciando que a cada ano uma canção será homenageada com enredo. O primeiro tema usado será “Mulheres de Atenas”.
Na opinião de Ilana, a música, feita em 1976 sob a vigilância da ditadura militar, é controversa: “Muitas pessoas não entendem. Mulheres de Atenas é uma ironia de Chico, ele está justamente dizendo que não é para se mirar naquele tipo de sistema em que a mulher tem que ser submissa ao homem. E vamos homenagear as mulheres de Atenas. Vamos sair fantasiadas de gregas, da cabeça aos pés, maquiagem, a caráter, cabelo, totalmente fantasiadas. Nós vamos estar na personagem. A gente está se propondo a colocar um projeto cultural na avenida, que, por acaso, é no Carnaval.”
Bloco dos Chicos, Soul Chico e Ópera do Malandro, em São Paulo; Mulheres de Chico, no Rio de Janeiro; Amantes de Chico, em Recife; As Raparigas de Chico, em João Pessoa; Acorda, Amor, em Belo Horizonte. A palavra do compositor se espalha na festa popular.
Ilana se inspirou em troça paulista. “Eu trabalhei com organização de eventos por uns 15 anos. Mas já faz 10 anos que eu me afastei, porque passei em um concurso. Eu estava morando no Espírito Santo e passando um carnaval em casa quando vi um bloco em São Paulo que homenageava Chico Buarque. Aí eu fiquei louca. Eu disse ‘Nossa Senhora, o sonho da minha vida’”, brinca, ao lembrar de quando tinha 12 anos de idade e conheceu a música “Rita” na escola. Por se ter saído mal na interpretação da letra, procurou conhecer mais desse universo e encontrou com a mãe um livro que explicava as metáforas buarquianas. “Eu me apaixonei nessa época. Isso mudou minha vida.”
De volta a Natal logo depois da pandemia, considerou o Carnaval potiguar maior do que havia conhecido e se animou com a efervescência.
Em junho de 2023, criou o perfil @full_chico no Instagram e começou a juntar pessoas interessadas em contribuir.
Desde então, os ensaios da percussão ocorrem aos domingos.
Na batuta, Jorge Negão se refere ao bloco como um “desafio maravilhoso”, entre as várias funções que assume durante o reinado de Momo.
Jorge é integrante da tradicional Banda da Ribeira e da banda Nêgo Zâmbi, além de diretor do grupo Folia de Rua, que já saiu em cortejo com mulheres, em Pirangi.
Para p músico a tarefa é instigante desafiadora pelo aspecto técnico, já que o artista homenageado brinca com o samba e no chão do bloco, os clássicos mudam de compasso.
S
“O tempo era curtinho, desde junho. Mas as gurias se dedicaram e está tendo um resultado maravilhoso, com ritmos aqui do Nordeste, maculelê, ciranda. Eu acredito que o FullChico vai provocar o Carnaval de Natal. A princípio, por ter mulheres tocando tambor com uma força diferente, com ritmos mais fortes. Mas também pelos objetivos do grupo, as provocações que vão ser feitas. O bloco não é só de tocar tambor e cantar chico. Vale a pena ir lá pra ver”, convida o mestre da percussão.
https://youtu.be/m_vaRKqCDYM
Ô abre alas que eu quero passar
Peço licença pra poder desabafar
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
Ô abre alas que eu quero passar
Peço licença pra poder desabafar
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
Eu não quero a rosa
Porque não há rosa que não tenha espinhos
Prefiro a jardineira carinhosa
A flor cheirosa
E os seus carinhos
Ô abre alas que eu quero passar
Peço licença pra poder desabafar
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
Ô abre alas que eu quero passar
Peço licença pra poder desabafar
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
Ô abre alas que eu quero passar
Peço licença pra poder desabafar
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
Fonte: Musixmatch
Compositores: João Miguel / Chiquinha (dp) Gonzaga
O teu cabelo não nega, mulata
Porque és mulata na cor
Mas como a cor não pega mulata
Mulata, eu quero o teu amor
Tens um sabor bem do Brasil
Tens a alma cor de anil
Mulata, mulatinha, meu amor
Fui nomeado teu tenente interventor
Quem te inventou, meu pancadão
Teve uma consagração
A Lua te invejando faz careta
Porque mulata, tu não és deste planeta
Quando, meu bem, vieste à terra
Portugal declarou guerra