Nos últimos anos, tem-se observado um aumento preocupante em casos de bruxismo, uma condição caracterizada pelo ranger ou apertar dos dentes, que afeta uma parte significativa da população.

Estudos indicam que aproximadamente 16,5% dos adultos são afetados por esta condição, muitas vezes sem estarem cientes do problema até que se manifestam sintomas mais graves, como dores de cabeça, desgaste dentário, ou problemas na articulação temporomandibular (ATM).

O Bruxismo e o Stress: Uma Relação Intrínseca

Os tempos modernos, marcados por um ritmo frenético e elevados níveis de stress, têm sido identificados como um dos principais fatores para o aumento do bruxismo. “Quando você está muito stressado, pode estar a colocar muita tensão nos músculos masseteres, os músculos responsáveis pela mastigação,” explica a Dra. Pujaa Patel, especialista em estética facial e medicina dentária. O stress crónico desencadeia uma série de respostas fisiológicas que frequentemente resultam em comportamentos como o ranger de dentes, seja durante o sono ou enquanto acordado.

Consequências do Bruxismo

O ato de ranger ou apertar os dentes exerce uma força considerável na arcada dentária, podendo ser até 10 vezes maior do que a força usada para mastigar normalmente. Este esforço excessivo não apenas desgasta os dentes, mas também pode levar a fraturas, recessão gengival e deslocamento dentário.
A pressão constante pode causar dores intensas na mandíbula, nas têmporas, e até mesmo irradiar para o pescoço e ombros, resultando em dores de cabeça persistentes.

Diagnóstico e Tratamento: Como Lidar com o Bruxismo

Embora o bruxismo seja frequentemente desencadeado pelo stress, também pode ser sintoma de outras condições médicas subjacentes, como distúrbios do sono ou problemas neurológicos. O diagnóstico precoce é crucial para evitar danos permanentes. Um dos métodos mais comuns para aliviar os sintomas é o uso de uma goteira noturna, um dispositivo que impede que os dentes se toquem durante o sono, diminuindo a pressão sobre a mandíbula.

Como destaca a Dra. Mirissa Price, porta-voz da American Dental Association, “O bruxismo pode ser tratado com sucesso ao abordar a causa subjacente.” Isso pode incluir desde práticas de relaxamento, como meditação e yoga, até intervenções mais diretas, como terapias comportamentais cognitivas para gerenciar o stress.

Hipnoterapia: Uma Abordagem Complementar

A hipnoterapia tem emergido como uma alternativa eficaz no tratamento do bruxismo, especialmente para pacientes onde o stress e a ansiedade desempenham um papel central. Estudos demonstram que a hipnose pode ajudar a reprogramar padrões de comportamento subconscientes, reduzindo a frequência e a intensidade dos episódios de bruxismo.

Através de sessões de hipnose, os pacientes são guiados a relaxar profundamente e a abordar a causa raiz do stress, resultando numa redução significativa dos sintomas.

Inovações no Tratamento

Além da hipnoterapia, surgiram outras inovações no tratamento do bruxismo, como a injeção de toxina botulínica (Botox) nos músculos masseteres. Este procedimento, embora inicialmente utilizado para fins estéticos, tem mostrado eficácia em relaxar os músculos envolvidos, reduzindo assim os episódios de bruxismo.
Pesquisadores da Universidade de Nottingham Trent, no Reino Unido, estão a desenvolver uma faixa de cabeça inteligente que auxilia no controlo do impulso de ranger os dentes durante a noite, criando uma consciência subconsciente do hábito.

Em jeito de Conclusão

O bruxismo, apesar de frequentemente ignorado, pode ter consequências graves para a saúde oral e geral. É essencial que as pessoas estejam cientes dos sinais e sintomas e procurem ajuda profissional assim que notarem algo errado. Como em muitas condições, a prevenção e o tratamento precoce são as melhores defesas contra os danos a longo prazo.

Cuidar da saúde mental e encontrar maneiras de gerir o stress pode não só prevenir o bruxismo, mas também melhorar significativamente a qualidade de 

vida. Como afirmou William James, “A maior arma contra o stress é a nossa capacidade de escolher um pensamento em detrimento de outro”.

Heitor Fox

Referências

1. Martins, R. C., Serra-Negra, J. M., & Oliveira, M. M. “Prevalência de bruxismo e fatores associados: uma revisão da literatura.” Revista Brasileira de Odontologia. 2018;75(1):1-9.
2. Mesko ME, Hutton B, Skupien JA, Sarkis-Onofre R, Moher D, Pereira-Cenci T. “Therapies for bruxism: a systematic review and network meta-analysis (protocol).” Systematic Reviews. 2017;6(1):4.
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4. Riley P, Glenny A-M, Worthington HV, Jacobsen E, Robertson C, Durham J, et al. “Oral splints for temporomandibular disorder or bruxism: a systematic review.” British Dental Journal. 2020;228(3):191–197.