O batelzinho desliza
rosto abaixo
em fio de sal,
embalado por uma voz
toda mel e cetim
e um tico de falsete.

Vai feliz
e vai nostálgico;
nessa água mansa
com notas de cardamomo
e um travo a alcaçuz.

Em som de celo,
faz curva larga;
com campainha de porta,
segue reto e circunspecto.
Que faria
se ouvisse contar um sonho?

Salta o cais,
aterra na Pontinha.
Mais além
irá só na memória
do tempo em que era ali
que se dizia "olá",
que se dizia "adeus".

Rochamar
06-10-2024