O projeto literário conduzido pelo editor da Traça, Hugo Filipe Lopes, o Cobramor, convoca escritores de língua portuguesa a imaginar uma realidade assustadoramente plausível: a de um Portugal governado, até o final da presente década, por um regime de extrema-direita.

A iniciativa é um recado extremamente necessário face à atual onda conservadora na Europa, em um contexto político no qual forças outrora marginais ganham terreno e influência, muitas vezes aproveitando a falta de respostas rápidas dos tradicionais políticos de centro e esquerda para as demandas crescentes da população.

Para participar, os autores devem enviar, até 30 de novembro, textos com um máximo de 5.000 palavras, propondo suas reflexões ficcionais sobre os contornos de um futuro próximo onde as liberdades democráticas podem estar sob ameaça. A iniciativa não surge em um vácuo, mas a partir do que se constata em países como Itália, França, Alemanha, Espanha e mesmo em Portugal, onde a presença e o discurso de partidos de direita radical se tem intensificado. 

Fui convidado a participar do júri de seleção dos textos, ao lado de Laura Vasques de Sousa, escritora e contista; Rafaela Lacerda, escritora e contista; Carla Moreira, escritora e actriz e do editor, tradutor e poeta Cobramor.

Para mim, brasileiro radicado há relativamente pouco tempo em Lisboa, é uma honra participar deste processo. Trata-se de uma questão que, com seus desdobramentos, é um dos assuntos que me interessam profundamente, dentro da riqueza e da variedade de temas que constituem a História de Portugal. Venho pesquisando sobre alguns tópicos da história do Estado Novo, suas relações com outros movimentos de direita na Europa e no Mundo, o que me leva a comparações entre a ditadura salazarista e a ditadura militar brasileira, para enredos que planejo abordar ficcionalmente em um de meus projetos de escrita.

E nestes anos em que estou a viver em Portugal, tenho sentido de perto as modificações no clima político, a ascensão da direita, as campanhas contra a imigração e a proposta de soluções radicais e repressivas. Será fascinante e crucial ver como os escritores contemporâneos refletem literariamente sobre este estado de coisas. É uma distopia, mas infelizmente não está muito longe de uma realidade possível, e este livro terá um papel de advertênciaque não poderá ser ignorado. A ficção científica e a distopia sempre foram géneros capazes de iluminar os perigos do presente, projetando-os num futuro imaginado. É exatamente isso que se propõe aqui: usar a criatividade para abrir os olhos da sociedade.”

A escolha do título da antologia é, por si só, uma declaração de intenções. Ao evocar o período autoritário do Estado Novo de Salazar, a editora estabelece um paralelo histórico que serve de aviso. A distopia proposta não se situa num futuro longínquo, mas à espreita no horizonte imediato, tornando a literatura uma ferramenta de alerta social.

A expectativa é que a antologia “Novo Estado Novo” se torne não apenas um sucesso literário, mas um ponto de referência para o debate político e social em Portugal e nos demais países lusófonos. Num momento em que a memória histórica e os valores democráticos são postos à prova, a arte da palavra assume, mais uma vez, o seu papel essencial de consciência crítica.

A chamada está aberta e o countdown para 30 de novembro começou. Cabe agora aos escritores pegarem na caneta – ou no teclado – e começarem a imaginar o futuro para que, quiçá, ele nunca precise de ser vivido.

Serviço:

Editora Traça – chamada aberta para antologia “Novo Estado Novo”

Textos com tamanho máximo de 5.000 palavras (word A4, fonte arial 12 pt)

Prazo para envio de propostas até 30 de novembro de 2025

Incluir nome, localidade e biografia com no máximo de 3 linhas

Escritores e escritoras de qualquer nacionalidade ou localidade de residência, com textos em língua portuguesa

Os selecionados receberão 2 livros como contrapartida e preço especial na compra de exemplares

Envio para o e-mail tracaedicoes@gmail.com com o assunto “NOVO ESTADO NOVO”.

Júri constituído por:

- Laura Vasques de Sousa, escritora e contista, autora de “Amaurose Fugaz”, Editora Urutau

- Rafaela Lacerda, escritora e contista, autora de “O outro olho da coruja”, Editora Mercador

- Jozias Benedicto, escritor, contista e artista visual, autor de “As vontades do vento”, Editora Caravana

- Carla Moreira, escritora e actriz, autora de “Todos somos vermes”, Editora Traça

- Cobramor, escritor, tradutor e editor, autor de “A boca cheia de cadáveres”, Editora Traça