Entre os indícios estão postagens de Trump atacando o Supremo Tribunal Federal (STF) e a revogação de vistos de ministros da Corte, como Alexandre de Moraes, e do procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Um dos pontos mais sensíveis identificados por auxiliares de Lula é o caráter explicitamente político das sanções.
Segundo um interlocutor do presidente ouvido pela BBC, ao atrelar as tarifas ao julgamento de Jair Bolsonaro pelo STF, Trump abandona qualquer justificativa econômica.
“A forma como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Este julgamento não deveria estar acontecendo. É uma caça às bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”, escreveu Trump em carta enviada na semana passada.
Apesar do histórico de recuos da atual gestão estadunidense em relação a outros países — como no caso da China, onde tarifas chegaram a ser reduzidas após negociações bilaterais —, a percepção no Palácio do Planalto é de que, com o Brasil, o cenário é diferente.
Um dos fatores seria a tentativa de interferência na eleição presidencial de 2026, na qual Bolsonaro, atualmente inelegível, poderia ter sua reabilitação judicial pressionada por meio de medidas econômicas.
Mesmo diante da dificuldade de comunicação com o governo Trump, o Brasil mantém canais formais abertos com o USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA), sob a liderança do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Além disso, o governo tem reforçado ações em duas outras frentes: sensibilização de políticos e empresários estadunidenses e a preparação de retaliações.
Uma missão parlamentar liderada pelo senador Nelsinho Trad (PSD) viajará a Washington nos próximos dias com o objetivo de convencer congressistas e membros do governo estadunidense a reavaliar os impactos das tarifas. Internamente, o Planalto também orienta empresários brasileiros a mobilizarem seus parceiros comerciais nos EUA para exercerem pressão contrária à medida.
“Queremos mostrar que as tarifas vão afetar diretamente o consumidor norte-americano médio, encarecendo itens do cotidiano como café e suco de laranja”, explicou um assessor do governo.
Tambem técnicos da Presidência, do Ministério da Fazenda e do MDIC estudam opções legais e economicas para uma eventual retaliação.
Numa rede nacional, Lula classificou a medida como "chantagem inaceitável" e garantiu que o Brasil usará "todos os instrumentos legais" para reagir, incluindo a Lei da Reciprocidade e ações na Organização Mundial do Comércio (OMC
Em evento da UNE em Goiânia, Lula sinalizou que o governo avalia ampliar a taxação de empresas digitais dos EUA. “Eu queria dizer para vocês que a gente vai julgar e vai cobrar impostos das empresas americanas digitais”, disse o presidente.
No entanto, no dia seguinte, o Ministério da Fazenda publicou nota oficial negando que o governo avalie controlar dividendos ou adotar medidas mais rigorosas de retaliação.
Fontes do Planalto afirmam que qualquer decisão nesse sentido só será anunciada após o aval direto de Lula, justamente para evitar exposição prematura de estratégias em um cenário ainda imprevisível.