Em meio à violência, o então primeiro-ministro K. P. Sharma Oli apresentou a sua renúncia. Para restabelecer alguma estabilidade, Paudel nomeou Sushila Karki, ex-presidente da Suprema Corte, como primeira-ministra interina — a primeira mulher na história do Nepal a assumir este cargo. A decisão resultou de intensas negociações entre o Presidente, o chefe do Exército Ashok Raj Sigdel e lideranças dos protestos, em grande parte formadas por jovens da chamada “Geração Z”, que tiveram papel determinante na mobilização nacional.
Karki construiu a sua reputação como magistrada firme contra a corrupção, sendo responsável por decisões históricas contra ministros e nomeações fraudulentas. Agora, o seu desafio será restaurar a confiança pública e garantir que as eleições antecipadas decorram de forma justa e transparente.
As famílias das vítimas continuam a exigir que os mortos sejam declarados “mártires”, título que garante reconhecimento oficial, apoio estatal e compensações financeiras. “O meu irmão deve ser declarado mártir, pois morreu pelo país, e o governo deve compensar os meus pais”, declarou Sumitra Mahat, irmã de um jovem de 21 anos abatido durante os confrontos.
O Nepal, com cerca de 30 milhões de habitantes, localizado entre a China e a Índia, enfrenta instabilidade política e económica desde o fim da monarquia em 2008. O desemprego e a falta de oportunidades levam milhões de nepaleses a emigrar para países como a Coreia do Sul, Malásia, os Estados do Golfo e até Portugal.
Apesar disso, em Katmandu o comércio e o transporte começam a retomar gradualmente, após o levantamento das ordens de restrição impostas no auge da violência.
As eleições marcadas para março de 2026 serão um teste crucial: verificar se o Nepal conseguirá consolidar a sua jovem democracia, responder às exigências de transparência e atender às aspirações de uma população cada vez mais jovem, mobilizada e consciente do seu poder coletivo.