E não querem nome algum.

Sei que todos vós fitáveis

Os meus eus intransitáveis,

Felizes no zumzumzum.

Mas meus eus são bem amigos,

Dialogam todo instante;

E se oferecem abrigos

Que me deixam ir adiante.

Sabei: não são antagônicos,

Pois embora polifônicos

Têm canção que bem se cante.

Mas, Deus, retira-me os eus!

Fique eu sem ter nenhum!

Mas se resta um, ó Deus,

Que não tenham mais algum,

Então algo ainda resta,

E por esta estreita fresta

Algo surge de incomum.

Já não é eu solitário,

Mas vai andando Contigo;

E agora que não é vário

Encontra em Ti seu abrigo.

É um eu que não sou eu,

Mas que o Verbo concedeu,

E estará sempre comigo.

O cuco deu muitas horas,

Não as contei... me perdi...

Ó tu que gemes e choras,

Cujas dores descobri,

Já que agora estou sozinho,

Sem outros eus no meu ninho,

Deixa-me estar junto a ti.

Vem aqui... vem e te aninha,

Vive em mim como um irmão;

Não repara esta chuvinha

Que tenho no coração.

Deus em nós vê tanta dor,

Amor, ardor e temor...

Talvez venha a salvação...

Campinas, 19 de março de 2025

Para André Danesh e Alexandre Nabil Beust