Representantes do MST destacam apoio do governo Lula, a força das cooperativas agrícolas e a inspiração da esquerda portuguesa na construção de um modelo de terra para produzir, não para especular.

Na mais recente edição da Festa do Avante, o Movimento Sem Terra (MST) do Brasil trouxe até Portugal a sua mensagem de resistência e esperança. Nascido da luta pela reforma agrária, o MST sobreviveu a anos de perseguição, nomeadamente durante o governo Bolsonaro, e hoje encontra terreno fértil para crescer com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em entrevista conduzida por mim, Joffre Justino, a  representantes do movimento, aqui em entrevista à Clarice,  sublinhou que o objetivo continua a ser claro: assegurar terra para produzir alimentos e combater a fome. “Temos muitos assentamentos onde as famílias já construíram as suas casas, as suas cooperativas e podem hoje produzir. O que trouxemos aqui é apenas uma pequena amostra do que conseguimos conquistar com décadas de luta”, sublinhou esta dirigente.

Apesar das conquistas, o desafio permanece. O Brasil ainda carrega a herança histórica dos latifúndios, com milhares de famílias sem terra. “O governo Lula é um parceiro, mas há muito por fazer. O objetivo é uma verdadeira reforma agrária popular, capaz de assentar famílias e dar-lhes condições para viverem do que produzem”, acrescentou a representante.

O MST destacou também a rede de cooperativas e agroindústrias que transformam os produtos dos assentamentos em alimentos saudáveis, vendidos em feiras e mercados, garantindo preços justos e acesso da população a alternativas ecológicas.

Na entrevista com a Clarice, foi ainda recordado que em Portugal a reforma agrária não vingou devido à falta de unidade política da esquerda e ao bloqueio da direita, em contraste com o percurso brasileiro. “O apoio das comunidades e da igreja progressista no Brasil foi determinante para que continuássemos firmes nesta luta”, frisou a dirigente.

A presença do MST na Festa do Avante reforça, assim, não apenas a ligação histórica entre movimentos progressistas portugueses e brasileiros, mas também a importância de uma reforma agrária que coloque a terra ao serviço de quem nela trabalha.